Um povo que nunca aprendeu a amar

Obadias é o menor livro do Antigo Testamento, com apenas vinte e um versículos. Faz parte da coletânea dos profetas menores. Obadias não é citado nenhuma vez no Novo Testamento. Era um nome comum em Israel. Há pelo menos doze indivíduos descritos no Antigo Testamento com este nome, e nenhum deles se encaixa como o autor deste livro. O nome Obadias significa “servo do Senhor” ou “adorador de Iavé”. LER Obadias 1:1-21 e vamos meditar sobre um povo que nunca aprendeu a amar.

O fato de Obadias ser um pequeno livro, não significa que ele é menos importante. Há lições grandiosas contidas neste livro que precisam ser expostas. Há alertas solenes que precisam ser ouvidos. Há juízo severos que precisam ser evitados. O livro de Obadias tem uma mensagem urgente, oportuna e necessária para a família, a igreja e a sociedade. Este livro, mais do que qualquer outro, mostra os frutos amargos dos erros cometidos no passado por uma familia piedosa.

Os edomitas eram os descendentes de Esaú, e Judá era a descendência de Jacó. Esaú e Jacó eram irmãos gêmeos, portanto essas duas nações nasceram do mesmo ventre. Eram nações gêmeas. Porém, a inabilidade de Isaque e Rebeca acabou provocando ciúmes nos filhos, abrindo uma brecha para o ódio, que não cessou por mais de dois mil anos. Indo para o texto, quero primeiro destacar cinco pontos importantes:

A. CINCO PONTOS IMPORTANTES PARA LEMBRAR

1) Não subestime os pequenos problemas; eles podem tornar-se um grande mal. (v.8)

Obadias está pintando com cores fortes o drama do ódio dos edomitas aos judeus. Esses dois povos nasceram no mesmo tempo, de um mesmo ventre. Eram irmãos gêmeos. Vieram do mesmo ancestral. Mas as intrigas pessoais de seus pais atravessaram os séculos e agora transbordam com fúria, provocando uma avassaladora inundação. Tudo começou com um erro de Isaque e Rebeca, pais de Esaú e Jacó. Esses pais cometeram o grave erro de terem preferência por um filho em detrimento do outro. Isaque amava mais a Esaú, e Rebeca tinha predileção por Jacó. Essa falta de sabedoria plantou no coração dos filhos a semente maldita da inimizade, do ódio e da competição. Esse ódio trouxe profundas feridas na vida dos pais, separou os irmãos e atravessou gerações, desembocando agora em uma atitude irracional de maldade dos edomitas unindo-se aos caldeus para oprimir, escravizar e matar os judeus. Foi a gota que transbordou do cálice, trazendo juízo peremptório de deus aos edomitas.

2) Uma grande benção pode transformar-se em uma grande tragédia quando deixamos que a vaidade pessoal nos domine. (v.10)

Isaque e Rebeca oraram vinte anos para terem filhos. Rebeca era estéril e queria conceber. Aquele casal voltou-se para Deus em humildade e súplica, buscando do céu essa preciosa benção. Depois de vinte anos de perseverante intercessão, Deus tornou-se misericordioso a eles, e Rebeca concebeu e deu a luz dois filhos, Esaú e Jacó. Mas por capricho pessoais e vaidades tolas, esse casal transformou uma benção em um problema. Eles não cultivaram a amizade entre os filhos, em vez disso, jogaram um contra o outro. Eles tinham preferências e predileções em relação aos filhos. Isaque amava mais a Esaú, e Rebeca amava mais a Jacó. Isaque e Rebeca fizeram dos filhos rivais e não parceiros. Plantaram no coração deles a disputa e não o companheirismo. O casal não mais se unia para tomar suas decisões, e a distância entre eles abriu um fosso no relacionamento dos filhos. A falta de diálogo entre os pais ergueu uma muralha de inimizade entre os filhos. O pior é que essa inimizade se espalhou entre seus descendentes e agora cerca de 1500 anos depois os edomitas estão destilando o veneno letal do ódio contra os judeus, seus irmãos.

3) Não tente mudar ou manipular os desígnios de Deus. (v.17)

Deus, na sua soberania, havia determinado que o filho mais velho serviria ao mais novo. A linhagem do Messias passaria por Jacó, e não por Esaú. A escolha divina não se baseava em mérito, porque os dois ainda não eram nascido quando Deus fez sua escolha. A escolha divina é baseada totalmente na graça e não em merecimento. Isaque tentou alterar o designo de Deus, endereçando a benção a Esaú. E, por outro lado, tentou manipular as coisas de forma errada, para ajudar na execução do propósito divino. Não podemos insurgir-nos contra os propósitos de Deus, nem precisamos dar uma mãozinha para o Senhor, ele é poderoso para fazer cumprir seus planos eternos. Tanto Isaque quanto Rebeca erraram em suas atitudes. Ambos deixaram de confiar em deus e descansar na sua sábia providencia. Todas as vezes que tentamos tomar os rumos da vida em nossas próprias mãos, descrendo da providencia. Atropelamos as coisas, causamos muitos males a nós mesmos e provocamos nos outros grandes sofrimentos.

4) A amargura pode gerar violência. (v.12)

Esaú revoltado com o irmão, toma a decisão de matá-lo. Jacó precisa fugir de casa com a promessa da mãe de que voltaria dias depois. Essa fuga demorou mais de vinte anos. Quando Jacó voltou, Rebeca já estava morta. Nesses anos, o medo do reencontro com Esaú ficou latejando no coração de Jacó. Mais de vinte anos de uma relação estremecida, de um ódio que ficou congelado no coração. Por intervenção divina, os dois irmãos se perdoaram, mas jamais viveram unidos (Gn. 33). O que eles conseguiram resolver no âmbito pessoal, não conseguiram sanar entre seus descendentes. Aquele ódio continuou crescendo a ponto de Obadias, 1500 anos depois, escrever sobre as tragédias dessa mágoa. Demostrada na perversa impiedade dos edomitas ao matar os judeus oprimidos de Jerusalém, conforme lemos no verso 12.
Devemos aprender que a amargura ou o ódio se arraiga tão profundamente que, mesmo desaparecido os motivos que o ocasionaram, ele pode continuar. Sabe por quê? Porque a amargura, o ódio, é irracional e diabólico, e se alastra perigosamente. Se não for contido radicalmente, suas sequelas podem ser trágicas. O ódio faz muito mal. Mas faz mais mal a quem odeia do que aquele que é odiado. O ódio arruinou Edom.

5) uma hostilidade que nunca cessou. (v.12,13,14)

A relação entre Israel e Edom sempre foram de grande hostilidade. Brigas entre parentes são proverbialmente as mais amargas. Este é o caso entre essas duas nações. Deus ordenou que os israelitas tratassem os edomitas como irmãos. Mas os edomitas não corresponderam e nunca se afeiçoaram aos israelitas. Quando os hebreus precisaram cruzar o deserto rumo à terra prometida, os edomitas não lhes deram passagem. Antes trataram os israelitas com hostilidade, obrigando Israel a uma jornada mais extensa. Os edomitas foram absolutamente insensíveis á necessidade dos hebreus e até mesmo se recusaram a um diálogo proposto por Moisés. De muitos, esse foi o primeiro conflito entre os descendentes de Esaú e Jacó. Agora, a rivalidade não era mais entre duas pessoas, mas entre dois povos. Na segunda parte desse sermão, quero destacar o julgamento divino.

B. O JULGAMENTO DIVINO

1 ) O orgulho precede a ruína.(v.4)

Edom habitava no monte Seir, uma cordilheira de montanhas rochosas. Ali estava a capital Selá, chamada mais tarde de Petra. Ali estava a cidade que parecia invencível, a cidade edomita. Do alto de suas rochas íngremes, os edomitas se vangloriavam de colocar o seu ninho entre as estrelas (Ob.4). Jamais aquela fortaleza havia sido saqueada. Eles se sentiam seguros, blindados por uma fortaleza natural. Mas Deus diz por meio do profeta Obadias que ainda que eles colocassem o seu ninho entre as estrelas, de lá seriam derrubados. A soberba é a sala de espera do fracasso. Onde o orgulho levanta sua bandeira, a derrota estrondosa é imposta e sua queda é implacável. Um dia aquilo que parecia improvável, aconteceu. A arrogante cidade dos edomitas foi tomada, seus bens foram saqueados, seu povo foi disperso e eles colheram exatamente o que plantaram. O mal que eles despejaram sobre a cabeça dos judeus caiu sobre a sua própria cabeça.

2 ) Ninguém está seguro escarnecendo dos princípios de deus.

Este homem, Edom, não agiu com humanidade nem com fraternidade em relação aos seus irmãos. Eles olhavam para os judeus como inimigos. Não defenderam seus irmãos, nem choraram pela tragédia que sobre eles se abateu. Antes, vibraram com sua ruína e participaram de sua destruição. Esse comportamento não apenas fez amargar a vida dos judeus, mas provocou a ira de Deus. Foi a quebra desse princípio do amor fraternal que levou Edom à sua derrota final e definitiva. O teólogo Clyde Francisco diz que em 312 A.C, os árabes expulsaram os edomitas do seu reduto próximo ao Mar Vermelho, capturando a capital dos idumeus, Selá, e rebatizando-a como Petra.
Segundo a profecia de Obadias, os seus descendentes vieram a se estabelecer no Neguebe. Por meio de casamentos com outros povos, tornaram-se os idumeus do novo testamento. Herodes, o grande, veio desta linhagem, de modo que nela e em Jesus podemos ver, por outro ângulo, a luta e o contraste entre edomitas e israelitas. Em 70 D.C, Tito destruiu tanto os idumeus (edomitas) como os israelitas, fazendo com que os edomitas desaparecessem da história.

3 ) Aqueles que semeiam o mal colhem o mal.(v.15)

O mal que Edom fez a Judá caiu sobre a sua própria cabeça. Aqueles que plantam o mal colhem o mal. Aqueles que semeiam vento colhem tempestade. Aqueles que semeiam na carne, da carne colhem corrupção. Querer fazer o mal e receber o bem é zombar de Deus, e de Deus ninguém zomba (Gl 6.7)! Obadias descreve Edom como um povo orgulho (Ob.3), como um povo violento (Ob.10), pronto a regozijar-se com a desventura de um irmão (Ob.12) e matando traiçoeiramente fugitivos (Ob.14). Edom fará uma colheita amarga de seus atos truculentos – será submetido a julgamento (Ob. 8). Edom será envergonhada (Ob. 10) e será totalmente destruída (Ob. 18).

4 ) O povo de Deus, mesmo sendo agora humilhado, triunfará. (v.17)

Judá foi econômica e politicamente arrasada. Jerusalém tornou-se um montão de pedras e escombros. A cidade foi destruída desde os fundamentos. O templo foi derrubado. O povo foi passado ao fio da espada e deportado. Durante setenta anos, eles ficaram debaixo de um jugo pesado na Babilônia. Os que permaneceram na província estavam cercados de inimigos, com os muros quebrados, as portas queimadas, vivendo em grande miséria e opróbrio. Houve, porém, um dia em que Deus tirou a carga de sobre o pescoço do seu povo. Houve um dia em que deus arrebentou seus grilhões. Houve um dia em que Deus restaurou seu povo à sua terra. Também irmãos, haverá um dia em que o nosso Senhor Jesus voltará em glória e nos levará salvos para o seu reino de luz.

5 ) Deus tem zelo pelo povo da sua aliança e a história está rigorosamente nas mãos do Senhor.(v.19)

O povo de Judá estava sendo arrasado pela Babilônia, que com mão de ferro saqueava, matava e deportava os indefesos judeus. Ao mesmo tempo, Edom se ajuntava a truculenta babilônia para oprimir ainda mais seus irmãos. Os invasores sentem-se fortes e invencíveis, tripudiando sobre a frágil cidade de Jerusalém. No entanto, os acontecimentos tomarão novo rumo.
O curso da história será radicalmente alterado. Aqueles que estavam no topo da pirâmide despencarão para o chão, e aqueles que estavam prostrados, farão uma viagem rumo ao topo (Ob. 21). Deus tem zelo pelo povo da sua aliança. Judá será restaurada, mas a Babilônia e a Edom cairão sem experimentar um tempo de restauração. Irmãos, a vitória não é dos fortes, não é dos sábios, nem dos poderosos, mas é daqueles que esperam no Senhor. Os edomitas pensaram que estavam ajudando a colocar uma pá de cal sobre Judá. Eles pensaram que a Babilônia estava no controle da situação. E que eles eram seus coadjuvantes na empreitada de destruir Jerusalém. Mas as rédeas da história não está nas mãos dos poderosos deste mundo. Quem está assentado na sala de comando do universo é Jesus, o todo-poderoso. É ele quem conduz a história para o fim glorioso.

CONCLUSÃO

Não seja como Edom, vingativa, amargurada, egoísta e desejosa de ver a ruína dos outros. Lembre-se que é Deus quem abate o soberbo e exalta o humilde (Tiago 4.6). Obadias revelou aqui uma mensagem severa e poderosa da parte de Deus. O profeta fala que os pecados que mais iraram a Deus foram as atitudes de egoísmo e orgulho de Edom contra seu próprio irmão. A mensagem deste profeta se aplica hoje em nós. Nunca seja tão orgulhoso a ponto de rir dos problemas alheios. Lembre-se de que o orgulho vai fazer você cair.

Pastor Jefferson Belisário Couto

Visite www.ejesus.com.br para centenas de artigos.

Comentários

comments

Contribua com sua opinião