Introdução
O nome do livro é propício. Lamentações é um livro composto por quatro grandes lamentações.
Jeremias foi vocacionado ainda muito jovem, e tentou fugir do duríssimo ministério que foi colocado a sua frente. Mas Deus já o havia vocacionado desde o ventre de sua mãe.
Talvez, não tenha havido, em toda a história do povo de Deus, um profeta tão mal compreendido e impopular como Jeremias. Enquanto os falsos profetas previam anos de grandes realizações, Jeremias anunciava o cativeiro como juízo de Deus sobre os pecado de seu povo. Enquanto os falsos profetas anunciavam que o cativeiros duraria apenas dias, Jeremias profetizava um longo período de setenta anos. Enquanto havia os “pregadores” de uma rebelião, Jeremias advertia que o problema não era a Babilônia e, sim, Deus, que estava por trás daquela nação. Sendo assim, os magistrados deveriam aceitar o cativeiro como repreensão de Deus. Enquanto os remanescentes queriam fugir para o Egito, Jeremias exortava o povo a ficar em Jerusalém e esperar o livramento de Deus.
Todos estes fatos fizeram de Jeremias um profeta impopular, taxado de anti-patriota e odiado pelo povo. O ódio era tanto que, quando ele tinha uma nova profecia a dar ao povo, era Baruque, seu secretário, quem ia diante do povo para falar em seu nome.
Jeremias era uma pessoa muito sensível, capaz de se condoer-se e sofrer, com seu próprio ministério. Jeremias sofria em pensar no cumprimento de suas profecias, no sofrimento que o povo de Deus iria enfrentar por sua desobediência. Além de tudo isto, havia as injúrias pessoais sofridas por ele: o profeta foi jogado numa cisterna lamacenta, onde quase morreu, mas foi salvo pelo rei Zedequias, que temia o cumprimento de suas profecias. Quando os remanescentes fugiram para o Egito, Jeremias foi levado como prisioneiro.
Jeremias escreveu lamentações durante a terceira invasão de Nabucodonosor, por volta do ano 586 a.C. e, quando ele viu a destruição por ele predita, sua mente foi invadida por várias lembranças amargas, dando origem ao livro em questão. Vejamos algumas dessas lembranças:
vs. 1 – eu sou um homem que viu a aflição;
vs. 15 – estou farto de amarguras;
vs. 14 – fui feito objeto de escárnio;
vs. 17 – estou sem paz e sem lembrança do bem.
Assim como Jeremias, talvez muitos de nós tenhamos do que nos lamentar. E mais ainda: como Jeremias, muitos não conseguem se desvencilhar de suas lembranças amargas.
Vejamos as conseqüências das lembranças amargas na vida de Jeremias:
vs. 4 – envelheceu
vs. 5 – ficou cercado de dor;
vs. 6 – sentiu-se nas trevas;
vs. 7 – viu-se isolado e cativo;
vs. 13 – teve seu coração ferido;
vs. 18 – e, por fim, viu sua esperança em Deus desaparecer.
As lembranças amargas de Jeremias referem-se à destruição de Jerusalém e ao conseqüente cativeiro do povo. Mas, quais são as suas lembranças amargas ? Quais são as recordações do seu passado que lhe colocam medo do presente e insegurança em relação ao futuro ? Quais são as situações de pecado, pelas quais Satanás lhe acusa até hoje, jogando este pecado em sua cara e lhe humilhando constantemente ? Quais são as situações que lhe fazem assistir novamente ao velho filme da sua vida e achar que as coisas sempre serão do mesmo jeito ? Quais as situações que tiram sua capacidade de sonhar ?
Como sabemos, a vida humana acontece em meio a uma guerra. Há dias em que estamos efervescendo de alegria; há outros em que nos desfazemos de tristeza. Há dias em que somos cidadãos da esperança; há dias em que já estamos derrotados antes mesmo da batalha começar. Há dias em que amanhecemos com um canto de louvor nos lábios; há dias em que amanhecemos com a boca cheia de lamúria e de murmuração.
Essas disparidades, às vezes, instala-se em nós e, dependendo do momento, o que se cria em nosso interior é um fruto extremamente amargo, com a fisionomia da maior desesperança. Assim, vamos ficando meio duros, empedernidos, viciamo-nos com desgraça e perdemos toda a chance de projetar algo melhor. O futuro não projeta mais, apenas retroage, levando-nos para as agonias do passado. A maioria de nós tem vivido, de um modo ou de outro, essa situação de perder a fé na vida, de perder a doçura de esperar. Assim, entramos numa situação caótica de perder a possibilidade de crer, de esperar, de se empolgar, de sonhar, de ver o melhor, de profetizar ante a desgraça da vida a libertação que só vem do Senhor.
Jeremias esteve assim mas, no vs. 21, ele chega à conclusão de que precisa, desesperadamente, livrar-se das lembranças amargas que o perseguem. E, para isto acontecer, ele precisa substituir as lembranças amargas por aquilo que lhe pode trazer esperança.
O que pode ocupar nossa mente no lugar das lembranças amargas e dar esperança ?
1 – Misericórdia (vs. 22)
As misericórdias do Senhor se renovam a cada manhã. Em meio à tristeza e à dor, em meio às lembranças amargas, somente as misericórdias do Senhor podem renovar todas as coisas. É pelas misericórdias de Deus que Ele nos perdoa, nos dá nova chance de recomeçar e aprender com os erros do passado.
2 – Fidelidade (vs. 23)
Deus é fiel e não pode negar-se a si mesmo. Por isso, as misericórdias do Senhor são sustentadas pela sua fidelidade, por seu caráter e não por um emocionalismo barato. A garantia da misericórdia de Deus é seu caráter. Esta realidade de que Deus não muda, antes, pelo contrário, é fiel, deve se tornar uma fonte infindável de esperança. Preste atenção: por mais que eu esteja deprimido, sentindo-me culpado, por mais que minha lamparina esteja sem óleo, por mais que minha mente esteja repleta de lembranças amargas, Deus tem o compromisso de segurar-me e esse compromisso é mais de Deus consigo mesmo, do que comigo. Grande é a sua fidelidade. Por mais que a situação esteja caótica, seja na família, no trabalho, na vida pessoal, posso ter esperança, porque Deus, com quem me relaciono, fez um pacto, uma aliança comigo e Ele é fiel !
3 – Bondade (vs. 25)
A terceira coisa que pode ocupar nossa mente para nos dar esperança é a bondade do Senhor. Essa bondade faz-me ver que Deus, embora aos nossos olhos pareça tardio, jamais falha. Por mais que a situação estivesse difícil, Jeremias descobriu que valia a pena esperar no Senhor. E por que valia a pena esperar ? Porque o Senhor é bom !
Quem espera no Senhor, não vai encontrar outra coisa senão bondade. Ele é bom para a alma que o busca. Mas Jeremias descobre algo que também é muito importante: bom é aguardar a salvação do Senhor e isso em silêncio, sem lamúria, nem murmuração, sem resmungar, sem amaldiçoar o dia do seu nascimento, sem lançar na cara de Deus o fato dele ter nos feito assim ou assado, ou por ele ter permitido que outras pessoas nos machucassem.
Conclusão
Por que o Senhor trouxe esta palavra nesta noite ? Para que você aproveite a vida e use-a da maneira mais digna possível. E a maneira mais digna de viver, é viver com esperança. Desesperança é a sepultura para o espírito falido. Viva com dignidade, viva com esperança, na intervenção do Senhor.