Houve certa vez um homem que sonhou acordado. Pareceu-lhe que estava em uma igreja espaçosa. Havia entrado ali de forma quase casual, com o fim de orar. Depois de orar permaneceu de joelhos, com os olhos abertos, contemplando as belezas do velho edifício, e descansando no silêncio. A intervalos, no grande edifício via-se as silhuetas de pessoas silenciosas em oração. Do outro lado da penumbra do santuário e dos corredores, os raios de luz penetravam na igreja pelas janelas superiores. Mais além, uma porta lateral aberta deixava que entrasse o ar de verão com seu perfume de flores e pasto. Ao longe, o espetáculo de árvores mexidas pelo vento e no horizonte uma cadeia de montanhas azuis, imprecisas e distantes como uma terra encantada.
O homem desviou seu olhar do agradável mundo exterior, e começou a contemplar a igreja de novo. De repente, perto de onde estava de joelhos, se ouviu um suave rumor de asas, e um passarinho branco entrou revoando pelo imenso santuário. Voava de um modo inseguro de lado para outro, e, em várias ocasiões parecia que ia cair no piso. Porém, paulatinamente, foi juntando forças, se elevou até o teto e finalmente, com um resoluto bater de asas perfilou-se para cima e saiu por uma das janelas abertas à luz do sol.
O forasteiro olhou de novo para as pessoas ajoelhadas em distintos lugares do edifício, e notou o que antes lhe havia escapado: que ao lado de cada uma delas revolteava, perto do piso de pedra, um passarinho branco. Logo viu que outro pássaro procurava levantar vôo para alcançar o teto. Porém, estava em apuros e voava em círculos, golpeando de vez em quando suas asinhas contra as grandes janelas inferiores dos vitais formosos. Por fim, caiu ao solo exausto permaneceu imóvel. Pouco depois outro pássaro se elevou desde o solo com um vôo rápido e fácil. Por instante, parecia que ia chegar à janela aberta e ao ar livre. Porém, subitamente girou com violência e caiu dando tombos até chegar ao solo com golpe surdo como se houvesse recebido um balaço: o passarinho estava morto.
Voltou ao seu lugar e se sentou em uma das cadeiras. Logo observou um passarinho muito feio de penas brancas sujas e irregulares que se elevava do piso. A princípio, o passarinho ia muito lentamente, porém, logo mostrou maior velocidade, porque tinha força, e se elevou até sair para o mundo ensolarado para além dos muros da grande igreja. O homem se perguntava com insistência pelo significado do que havia visto. Olhou de novo as pessoas que estavam orando, e se deteve diante de uma muito reverente e de joelhos que tinha ao seu lado um pássaro de brancura nívea e de belas formas, porém, quando observou mais de perto a ave, viu que seus olhos estavam paralisados e seu corpo rígido. Era um embrulho sem vida. “Que lástima!”, exclamou em voz baixa. Nesse momento escutou um leve rumor de asas. Outro passarinho estava se levantando tranqüilo e firme do solo, com um aparente esforço ao começo, porém, cada vez com maior facilidade à medida que juntava forças. Este pássaro se elevou diretamente, deixando para trás os anjos talhados que pareciam exclamar “aleluia” um ao outro através da penumbra do templo, e logo saiu pela janela aberta até o céu azul de onde logo se perdeu de vista.
Pensando acerca do que havia visto, o homem virou-se e viu a um anjo parado perto dele – um anjo grande e forte, com um rosto que falava de bondade, sabedoria e compaixão – . tudo lhe pareceu perfeitamente natural como acontece nos sonhos, e o homem lhe sussurrou: “Podes tu me explicar o significado desses pássaros brancos?”
“Sim”, disse o anjo em voz baixa, enquanto se sentava ao seu lado, “Pois eu sou o guardião deste lugar de oração. Os pássaros brancos, são os sinais exteriores das orações daqueles que vêm aqui para orar.
O primeiro pássaro, que encontrou e que teve muita dificuldade de subir porém logo pode consegui-lo, é a oração de uma mulher de muitas ocupações, que havia até aqui no meio de muitas atividades: dispõe de muito pouco tempo e geralmente entra por um momento enquanto vai às compras. Tem muitos deveres e ocupações e o seu pensamento estava cheio de coisas quando de início se ajoelhou e começou a orar. Porém, perseverou, pois seu coração está em boa relação com Deus, e ele a ajudou. Sua oração foi sincera e sua vontade boa, de forma que a oração chegou até Deus.
“E o que significa o pássaro que revolteou em círculos?”, perguntou o homem.
O anjo esbouçou um leve sorriso, e parecia estar divertido “Essa”, respondeu, “é a oração de um homem que não pensa a não ser em si mesmo. Até nas orações só pede “coisas ” tais como o êxito em seus negócios: trata de usar ao Senhor para seus fins pessoais… a gente crê que é muito religioso… porém sua oração não chega a Deus.
“Porém, porque caiu ao solo o outro pássaro, como se tivesse recebido um balaço?”
o anjo se pôs sério, e disse com tristeza: “Esse homem começou muito bem sua oração; porém, de repente, se lembrou de um rancor que tinha contra um conhecido; se esqueceu da oração e sua mente se encheu de amargo ressentimento. E a amargura matou a oração.”
“E o passarinho feio”, continuou o anjo, logo depois de um momento de silêncio, “é a oração de um homem que pouco sabe de reverência; sua oração é atrevida, quase presunçosa, diriam alguns; porém Deus conhece seu coração e sabe que sua fé é real; o homem verdadeiramente crê em Deus de modo que sua oração chega até Ele, e o formoso pássaro sem vida, que nunca se levantou do piso?”
“Essa”, disse o anjo, “é uma oração belamente composta; a linguagem é perfeita e o pensamento correto no que diz respeito à doutrina; o homem a pronunciou com a maior solenidade e reverência exterior… porém não cria em uma só palavra do que dizia. E enquanto pronunciava a oração, seus pensamentos estavam ocupados com seus negócios; de modo que sua oração não pode chegar até Deus.”
“E que significa o último passarinho, que voou até o alto com tanta facilidade?” O anjo sorriu. “Creio que tu sabes o que é. É a oração de uma mulher cujo coração e cuja vontade estão postos totalmente em Deus… Sua oração chegou diretamente até Ele.”
Uma parábola de Olive Wyon, extraída do livro: En Diálogo com Dios, de David Evans.
Traduzido do espanhol pelo Rev. Kléber Nobre de Queiroz