Ler ainda Lucas 10:38-42. Duas visões de Mundo. Hoje, vamos refletr sobre Marta, Maria e suas visões a respeito do mundo.
A Cidade
O pequeno povoado de Betânia era muito simples. Não havia nada de especial que fosse capaz de chamar a atenção para ele. Não era um centro comercial… Lá não havia em Betânia concentração de artesão… Também não era um local de peregrinação religiosa… Ou mesmo a terra natal de alguma pessoa importante. Mas para Jesus, Betânia era especial. Ali moravam seus amigos: os irmãos Marta, Maria e Lázaro.
Betânia era um pequeno vilarejo, que ficava na encosta oriental do monte das oliveiras, a cerca de três quilômetros de Jerusalém. Betânia era importante, porque ali moravam os amigos de Jesus.
As Irmãs
Marta e Maria. Porque não Maria e Marta? A preferência na ordem dos nomes pode indicar que Marta era a mais velha das irmãs e provavelmente a pessoa responsável pela casa. Maria era a mais nova. Assim, considerando o sistema patriarcal dos judeus, possivelmente Marta fosse uma viúva que liderava o seu lar.
No Brasil as estatísticas apontam para um crescimento constante, e significativo nas últimas décadas, do número de mulheres que lideram suas casas. Mulheres que vivem e lutam para manter seus lares funcionando, que se tornam responsáveis pelo sustento e manutenção de suas casas algumas vezes pela omissão e pelo abandono de maridos irresponsáveis e incapazes para assumir um dos papéis que lhe cabe no lar. Viúvas de maridos vivos. Provavelmente não era esse o caso de Marta, mas tudo indica que era ela quem liderava sua casa.
Marta e Maria eram irmãs, mas muito diferentes uma da outra. Elas viam o mundo de forma tão diferente que eram capazes de reagir de forma oposta ao viverem uma mesma situação.
Marta era uma mulher prática, realizadora, daquelas que começa e termina aquilo tudo o que faz. Marta sabia que certas coisas que precisam ser feitas não devem ser adiadas. A vida fica melhor quando tudo está no seu devido lugar. Marta não era dada a muitas surpresas. Seus dias eram planejados com antecedência. Rotinas são cansativas, mas são necessárias.
Maria era do tipo contemplativa. Emoções à flor da pele, Maria era capaz de esquecer da vida se alguém começasse a contar suas dores e alegrias. Para Maria cada dia era um novo dia, e podia trazer novos acontecimentos, mesmo ali no vilarejo de Betânia. As rotinas não eram seu forte, além do mais havia muitas pessoas precisando de alguém do lado para ajudá-las.
A morte de Lázaro
(João 11:1-45)
João, o evangelista, conta a história da morte de Lázaro, irmão de Marta e Maria. É impressionante o relato sobre a reação das duas irmãs.
Depois de usar os escassos recursos de que a medicina dispunha naqueles dias, Marta e Maria mandam avisar a Jesus que Lázaro estava doente. Elas sabiam que Ele poderia ir além das tentativas frustradas dos médicos.
Ao receber a notícia, ele diz aos discípulos que Lázaro está morto, mas que iria despertá-lo. Jesus recebe a notícia, mas não vai de imediato. Quando ele chega a Betânia, Lazáro estava morto há 4 dias.
Marta e Maria estavam arrasadas com a morte do irmão, provavelmente mais novo. João diz que muitas pessoas foram visitar as duas para consolá-las a respeito da morte do irmão. É nesse cenário que chega a notícia de que Jesus estava chegando à vila. Qual a reação das irmãs?
Marta, quando soube que vinha Jesus, saiu ao seu encontro; Maria, porém, ficou sentada em casa. (João 11:20 ARA)
Marta não pode esperar. Ela sabe por qual caminho Jesus está chegando. Ela viu seu irmão adoecer, tomou as providências necessárias e ainda assim viu a doença se agravar; tomou a iniciativa de avisar a Jesus, e ainda assim seu irmão morreu. Porque as coisas não estavam funcionando como deveriam? Ela não podia esperar. Correu ao encontro do mestre.
Maria não tinha forças para reagir. Seu coração estava partido. O irmão a quem tanto amava se fora. Ela ficara ao lado dele durante toda a enfermidade. Compressas quentes e chás (que Marta providenciara), noites em claro acompanhando a agonia do irmão. Mas ele se fora. Maria não conseguia se mover. Ficou sentada em casa esperando Jesus.
Marta sai em busca de Jesus. Se alguém poderia resolver tudo isso era Jesus. As coisas não estavam funcionando bem, mas Jesus poderia colocar tudo nos seu devido lugar.
Disse, pois, Marta a Jesus: Senhor, se estiveras aqui, não teria morrido meu irmão. Mas também sei que, mesmo agora, tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá. (João 11:21-22 ARA)
Ela conhecia o Mestre, sabia dos milagres que ele já fizera. Ela sabia que bastava uma oração de Jesus ao Pai. Mas para Marta, naquele momento, o amigo Jesus era apenas o meio para por em ordem o caos que tomara conta do seu mundo.
Jesus tenta consolar Marta dizendo que Lázaro voltaria à vida. Ela entra numa discussão teológica sobre a ressurreição do último dia. Jesus tenta explicar novamente para a agitada Marta: Eu sou a ressurreição e vida! Marta, esqueça seu irmão, esqueça sua vida certinha e organizada, acalme seu coração.
Jesus disse: “Sou eu quem levanta os mortos e dá a eles uma nova vida. Todo aquele que crê em mim, mesmo que morra como qualquer outro, viverá novamente. (João 11:25 BV)
Maria ainda está em casa. Marta fala com a irmã em separado e diz que Jesus a está chamando. Maria não tem forças, mais levanta e vai ao encontro de Jesus, que ainda não tinha entrado na cidade. As pessoas que estavam consolando Maria foram junto, pensando que ela iria chorar no túmulo do irmão.
Quando Maria chegou ao lugar onde estava Jesus, ao vê-lo, lançou-se-lhe aos pés, dizendo: Senhor, se estiveras aqui, meu irmão não teria morrido. Jesus, vendo-a chorar, e bem assim os judeus que a acompanhavam, agitou-se no espírito e comoveu-se. (João 11:32 – 33 ARA)
Então acontece ao que impressiona. Maria encontra Jesus e fala exatamente a mesma coisa que irmã havia falado. Mas ela não tem argumentos teológicos.
Ao ver Jesus ela se lança aos pés do mestre e chora. Maria não tem mais o que falar, ela chora abraçada aos pés de Jesus. E foi o lamento daquela mulher que moveu o coração Jesus, e ele chorou pela dor que todos ali estavam passando.
A visita de Jesus
Certa vez, Jesus e os discípulos chegam à pacata Betânia e imediatamente são acolhidos por Marta, Maria e Lázaro. Essa é outra bom ocasião para conhecermos um pouco mais sobre Marta e Maria.
Marta sabia o que fazer. Visitas em casa significava mais dedicação para que tudo estivesse em ordem. Ela não podia admitir que Jesus tivesse uma má impressão da casa, que as refeições não fossem especiais ou que algum dos visitantes não fosse atendidos em suas necessidades. Por isso Marta trabalhava duro.
Maria não tinha dúvidas. Não perderia nem uma sequer das palavras de Jesus. Ela sentou-se ao lado do Mestre para ouvi-lo falar sobre o Reino de Deus. Maria queria ouvir sobre as curas realizadas, sobre as perguntas dos fariseus e as respostas de Jesus. Maria queria ver através das palavras de Jesus tudo aquilo que Deus estava fazendo.
Duas maneiras diferentes de ver o mundo. Dois jeitos diferentes de enxergar a vida.
Marta sentiu-se injustiçada. Realmente não era justo. Enquanto ela trabalhava duro para que tudo fosse perfeito. Maria estava sentada ouvindo Jesus. Depois de planeja o que dizer, Marta toma coragem e reclama com Jesus:
Marta agitava-se de um lado para outro, ocupada em muitos serviços. Então, se aproximou de Jesus e disse: Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado que eu fique a servir sozinha? Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me. (Lucas 10:40 ARA)
Não é um apelo emocional. Ao mesmo tempo em que pede a Jesus por justiça, Marta revela seu desejo de que a irmã seja igual a ela. Há muitas coisas pra providenciar até que tudo esteja do jeito que deve estar e Maria precisa me ajudar nisso.
Agitada, correndo de um lado para outro, cheia de coisas urgentes, sem tempo para ninguém (talvez nem para si), Marta não podia parar, nem ver ninguém parado.
Maria não retruca. Ela não tem nada a dizer. Talvez Marta estivesse certa. A própria Maria, por diversas vezes já se sentira culpada por não ser com sua irmã. Diversas vezes Maria se perguntara se algum dia ela seria tão esforçada e dedicada como a irmã e sentia-se culpada por não ser igual a ela. Mas Maria não disse nada, afinal Marta falara com Jesus.
Eu quase posso ver o sorriso no rosto de Jesus quando ele afirmou:
… Marta, Marta, estás ansiosa e perturbada com muitas coisas; entretanto
poucas são necessárias, ou mesmo uma só; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada. (Lucas 10:41 -42 ARA)
Você sabe por que está ansiosa, Marta? Você sabe o motivo da sua inquietação? Você está preocupada com muitas coisas! Sua vida está consumida em tantas atividades… E você é tão exigente em cada uma delas que sua alma está perturbada.
Não são necessárias tantas preocupações! A vida pode ser mais simples! Na verdade, Marta, apenas uma coisa é necessária para viver uma vida que rende louvor a Deus, e Maria fez a escolha certa.
Parecia injusto que Marta trabalhasse duro e Maria estivesse ouvindo Jesus. Mas ambas havia tomado essa decisão. Se Maria havia tomado a decisão de estar com Jesus, Marta tomara a decisão de dedicar-se às sua atividades.
O texto não diz que Maria não fizera nada. É provável que ela tivesse cumprido as tarefas que lhe cabiam, mas para Marta isso não bastava. Era preciso ir além, provar para toda a aldeia de Betânia que elas eram capazes de fazer tudo o que era necessário.
Marta, Marta… Maria escolheu a boa parte. Porque você escolheu a parte mais difícil?
Marta ou Maria
Eu sei que há Martas e Marias aqui hoje. Depois de ouvir um pouco da vida dessas duas mulheres, podemos ser tentados a condenar as Martas e absolver as Marias e deixar de aprende lições preciosar. A vacina contra esse erro é olhar para Jesus.
(1) O Senhor ama tanto as Marias como as Martas. Ele escolheu ambas para serem suas amigas. O apóstolo João registrou bem isso: Ora, amava Jesus a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro. João 11:5
Maria, você não precisa tentar seu igual a sua irmã. Não dê lugar ao sentimento de culpa apenas porque vocês são diferentes. Você sabe que o mundo em estamos é o mundo de Marta, mas não ceda à tentação de correr… Seu coração não vai suportar.
Marta, Marta… Cuidado com o seu jeito de ver o mundo. Quando a vida começa a se tornar uma seqüência interminável de tarefas a serem cumpridas… Quando você acha que vai conseguir controlar tudo… Quando o limite da exigência, consigo e com os outros, é extrapolado… Quando as pessoas se tornam meros instrumentos para alcançar resultados… Você precisa mudar o seu jeito de ver o mundo.
É preciso voltar aos pés de Jesus e ouvir novamente suas palavras… Reencontrar as prioridades da vida… Amar as pessoas ao seu redor… Aprender a chorar nos pés de Jesus… Reaprender a confiar nele… Marta, Marta, porque andas ansiosa… Uma coisa só basta: a presença do filho de Deus.