Mulher gosta de falar?

Na cozinha da casa de minha mãe, eu e minhas irmãs conversávamos sobre o problema que afetava uma de minhas filhas. Meu irmão, que é muito amigo nossos, ficou por ali, escutando e dando uns palpites de vez em quando. Lá pelas tantas, contudo, ele se despediu, dizendo: “Estou vendo que vocês ainda vão longe com essa conversa. Eu vou dormir. Boa noite.” E foi mesmo, enquanto nós ainda fiamos por ali mais de duas horas. Fomos dormir de madrugada, sem que nada tivesse sido resolvido, mas encorajadas pelo apoio que demos e recebemos umas das outras.

Tem sido assim em muitas situações que enfrentamos. Com essas conversas, incompreensíveis para os homens da família, tecemos uma rede amiga e fraterna de comunicação e comunhão que nos tem sustentado nas mais diversas dificuldades.

As mulheres gostam de falar, sim! Falam para se comunicar, para se ligar aos outros, e, por isso mesmo, usam mais a linguagem do coração, dos sentimentos. Os fatos em si são mais relevantes para elas se envoltas nas ondas de sentimentos que provocam. Deus fez a nossa mente mais intuitiva e integrada em suas funções para complementar bem a mente masculina — mais lógica, racional e unilateral em seu funcionamento.

Sei que gosto de falar, e sei também que isso é bom. Mas essa qualidade feminina pode ser distorcida pelo meu pecado e me levar a falar demais, na hora imprópria, e falar do que não deveria. Para evitar essa distorção, inspiro-me no exemplo de uma mulher sábia, cujas palavras e silêncios muito me ensinaram (e continuam ensinando) nos momentos de dúvida.

Maria, mãe de Jesus, é mencionada diversas vezes no Evangelho de Lucas como uma mulher que se calou nas horas mais emocionantes de sua vida. “E, vendo-o, ela turbou-se muito com aquelas palavras, e considerava que saudação seria esta” (Lucas 1:29). Diante da aparição de um anjo, o que você faria? Maria analisou que saudação seria aquela. “Mas Maria guardava todas estas coisas, conferindo-as em seu coração” (Lucas 2:19). “E sua mãe guardava no seu coração todas estas coisas” (Lucas 2:51b). Maria tinha o hábito de guardar as coisas em seu coração antes de falar sobre elas. E, por pensar e meditar sobre os eventos de sua vida diante de Deus, ela pôde também entoar um dos mais belos cânticos de louvor a Deus que a Escritura registra. Em todo o ministério terreno de Jesus, ela esteve presente, atuante, envolvida, nem sempre entendendo, mas sempre aprendendo, conferindo tudo em seu coração.

O segredo de Maria é que ela conversava primeiro com Deus a respeito das coisas que a perturbavam. Ele lhe dava a Sua perspectiva do que estava acontecendo. Depois disso, ela podia usar as palavras sabiamente, falando ou calando.

O apóstolo Pedro, que era casado, e cuja sogra convivia com a família, com certeza devia estar ciente da nossa vocação para as palavras, pois advertiu as esposas a conquistarem seus maridos para o Evangelho sem palavra alguma, apenas agindo e esperando em Deus.

Essa é a dificuldade! Não só no caso dos maridos descrentes, mas dos crentes também. Gostamos de falar, de pregar para eles, disfarçada ou declaradamente. E o fazemos porque desejamos o bem deles. Entretanto, somente quando Deus estiver operando dentro de nós, dando-nos o espírito de mansidão e confiança Nele, modificando e sustentando a nossa tendência natural de falar, é que nossas palavras estarão revestidas do poder restaurador do Senhor, que nos dá palavras de sabedoria e instrução em bondade (Provérbios 21:26).

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