INTRODUÇÃO
Primeira menção na Bíblia à idéia de oração. Se as contas estão certas, passaram-se 235 anos do surgimento de Adão. Já oravam antes, mas é a primeira menção a “invocar o nome do Senhor”.
Há algumas particularidades no texto que nos ajudarão a entender o que se passa.
1. O nome que passou a ser invocado é Iahweh, o nome sagrado que Deus reservou para si. É o nome que Deus se deu a si mesmo, seu nome próprio. Veja Êxodo 6.2-3, onde “Jeová” (VR) éuma tradução equivocada. Sobre este nome, declarei em meu livro A Atualidade dos Dez Mandamentos, ao tratar da pergunta de Moisés a Deus, em Êxodo 3.13: “Detenhamo-nos um pouco aqui. A resposta divina foi EU SOU O QUE SOU (Êx 3.14). A transliteração do hebraico é ‘ehyeh asher ‘ehyeh. Declaração vasta, riquíssima, que enche páginas de comentários. Uma abreviatura (ou contração) da frase toda seria Yahweh, “Eu sou” ou “Eu serei”. É o tetragrama sagrado e inefável, que transliterado nos daria YHWH (pois as vogais não existiam e foram inseridas, séculos mais tarde, em formas de sinais, pelos massoretas, para facilitar a sua leitura). Para nós, um nome impronunciável. Dele, Deus disse: “este é o meu nome eternamente, e este é o meu memorial de geração em geração” (Êx 3.15)”.
2. Quando nasceu um filho a Sete é que este nome, o verdadeiro nome de Deus, começou a ser invocado. “Invocar” é mais que chamar. É “chamar sobre si, chamar para si”. Sete é, no hebraico, Shéth, “concedido”, “presenteado” ou “dado”. Recebeu este nome porque Eva o viu como presente de Deus, depois da morte de Abel. Foi um presente de Deus. Substituiu algo que ela perdeu.
Preencheu um vazio seu.
3. O filho de Sete que originou o culto a Iahweh foi Enos. Que tem o mesmo sentido de Adão, “homem”, mas ressaltando a fragilidade humana. Sete originou uma linhagem piedosa, espiritual que buscava a Deus. Por isto é que Eva diz “em lugar de Abel” (4.25), que era “justo” (1Jo 3.12). Como disse Lockyer: Com a chegada de Enos, os homens tiveram consciência de sua fraqueza e procuraram refúgio em Deus, desejando ser distinguidos como homens que temem a Deus e homens que não temem a Deus. Surge uma linhagem que teme a Deus, que o busca e que ora. Não eram pessoas que orariam em determinados momentos, mas que teriam vida de oração, reconhecendo ser fracos e dependentes de Deus. Esta é a base da vida de oração: reconhecimento de nossa fragilidade e dependência de Deus.
AS CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEXTO
1. A oração é prática antiqüíssima na história da humanidade. Desde os primórdios o homem invoca uma divindade, que o ouça e que cuide dele.
2. Invocar o nome do Senhor é ser adepto do Senhor. Não é só pedir. É por-se sob o nome dele. Confiar no nome dele e honrar este nome. Orar é viver honrando o nome de Deus. Oramos com palavras e com atitudes, com a vida.
3. Só o Deus Eterno, que revelou com outros nomes, embora tenha escolhido ser chamado de Iahweh, deve ser adorado e buscado em oração. Adorar a qualquer outro é pecar. É idolatria.
4. A linhagem que busca a Deus e que ora surgiu do reconhecimento de que Deus dá coisas boas aos seus, como Eva entendeu. Nós oramos porque sabemos que Deus ouve e dá coisas boas ao seu povo. Oramos porque precisamos de coisas boas da parte de Deus: saúde, discernimento, emprego, a vida enfim.
5. Deus dá coisas boas aos seus filhos, mesmo quando eles estão caídos. Eva estava fora do Éden, mas recebeu um presente de Deus. Não é nossa força na oração. É a graça de Deus. Podemos ser pecadores, mas ele nos perdoa, nos ouve e nos socorre. O mérito não é nosso. É a bondade dele.
6. Quando Deus apareceu a Moisés para libertar o povo e lhe deu o seu nome, estava lembrando deste episódio. Foi como se dissesse: “Vocês me invocam a tanto tempo! Chegou a hora!. Há um momento em que chega a hora de Deus nos socorrer.
7. Não basta orar em determinados momentos. É preciso ter vida de oração. Orar só na hora do aperto não é boa política. Deve-se invocar o nome do Senhor, colocar-se sob sua direção. Ser seguidor comprometido.
8. Somos a linhagem de Sete, do ponto de vista espiritual. Devemos nos caracterizar como pessoas que vivem na presença de Deus. Reconhecemos nossa fragilidade e dependemos dele. Esta é a base da vida de oração: reconhecer nossa necessidade e que dependemos de Deus.