Eleição Incondicional

INTRODUÇÃO: Existem várias maneiras de abordar esta doutrina da Eleição Incondicional – Gostaria de fazê-lo através do trecho que acabamos de ler (Ex 33.12-19) e, nesse sentido, estou grato ao Pastor John Piper por estudo realizado sobre este tema. Em nosso exame, vamos observar um trecho do AT e alguns mais do NT.

Moisés está travando um intenso diálogo com Deus. O Povo de Deus atravessava uma crise – liberto do Egito, havia caído em grande idolatria. Moisés intercedeu pelo Povo (cap. 32); houve arrependimento (ini. do 33) e a indicação de Deus de que a jornada deveria ser reiniciada em direção à terra prometida. Essa jornada não seria fácil. Muitos inimigos estavam à frente. Por isso Moisés procura a face de Deus.

Não temos aqui uma mera oração, mas um profundo diálogo, às vezes impertinente, mas o texto (v. 11) nos diz que “falava o Senhor a Moisés face a face, como qualquer fala a seu amigo…”

Moisés está temeroso. Ele quer mais segurança. Mais força para liderar o Povo. Deus havia prometido um anjo (“eis que o meu Anjo irá adiante de ti”- 32.34) mas Moisés queria mais! Em 33.15 ele diz: “se a tua presença não vai comigo, não nos faça subir deste lugar”. Deus não queria ir (33.3). Moisés quer que Deus vá (33.15). E ele quer conhecer mais. Saber mais sobre o próprio Deus. Quer aprofundar suas convicções. Quer ter mais segurança. Deus responde de maneira espantosa (33.17) – Farei o que você pede! Essa decisão de Deus é fruto incondicional de sua graça. O povo não merecia – eram de “dura cerviz” – (pescoços) cabeças duras!

Então, Moisés suplica a Deus: “Rogo-te que me mostres a tua glória”. (18) Deus responde: “farei passar toda a minha bondade diante de ti, e te proclamarei o nome do Senhor; terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de quem eu me compadecer”. (19)

Moisés pede para ver a glória. Deus proclama o seu nome. Em outras palavras – se você compreender o nome de Deus, você terá vislumbrado a sua glória! Deus não está brincando com Moisés. Quando ele clama: “mostra-me a tua glória”; Deus responde: “este é o meu nome”. Os nomes de Deus são manifestação da sua glória.

O nome, neste v. 19 é YAVÉ – O SENHOR. Em Ex 3.14 este nome já havia sido explicado a Moisés, que também pedia segurança: “Eu SOU o que SOU”. Aqui, no nosso texto, a explicação do nome é: “terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de quem eu me compadecer”.

Em Ex 3.14 o foco é a existência de Deus – ele existe autosuficientemente em si próprio ; Ex 33.19 expressa as ações cheias de graça de Deus – ele faz o que faz sem existir nada externo que determine as suas escolhas. É isso que Deus revela sobre si mesmo, quando Moisés pede para ver a sua glória! – Assim, o nosso ensinamento é: A Glória de Deus consiste na demonstração de sua graça e misericórdia a quem lhe apraz.

Deus é absolutamente livre de restrições e induções provenientes de sua criação. Sua ações seguem o curso que ele próprio determina. Sua escolha de mostrar misericórdia a uma pessoa e não a outra, tem origem no mistério de sua soberana vontade, não na vontade de suas criaturas. Ex 33.18-19 nos ensina que essa auto determinação e liberdade de Deus, faz tanto parte de sua essência que é o seu nome e a sua glória.

Porque Moisés pediu para ver a glória de Deus? Porque ele sabia que qualquer pedido baseado nas suas próprias qualificações ou nas qualidades do povo de cabeça dura – nunca seria bem sucedida.

Assim, a declaração da liberdade absoluta de Deus tem a intenção de dar a Moisés esperança e segurança que Deus pode e será misericordioso com um povo de cabeça dura e que estará com este povo.

Este Deus, de Ex 33.19, que age soberana e incondicionalmente, não é reconhecido em nossa sociedade e, o que é pior, nem em inúmeras igrejas chamadas evangélicas: A Glória de Deus consiste na demonstração de sua graça e misericórdia a quem lhe apraz. A liberdade soberana de Deus é essencial ao seu NOME, à sua natureza.

Quando aplicamos esta doutrina na área da salvação, temos o que chamamos de ELEIÇÃO INCONDICIONAL. Eleição: a escolha que procede dele – quem ele salvará? Incondicional – sua escolha não é baseada em qualquer condição ou qualificação que qualquer pessoa tenha. Procede dos mistérios insondáveis da vontade soberana de Deus.

Por que Deus é o que ele é? Deus é quem ele é – por si só. Nada faz Deus ser o que ele é (Ex 3.14). Por que Deus foi misericordioso comigo? A resposta é “terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de quem eu me compadecer”. Nada existe, fora de Deus, que constrange a sua misericordiosa eleição de minha pessoa. Sua escolha se fundamenta em si mesmo. Ele escolhe livremente, independente ou incondicionalmente de qualquer condição em nós.

A doutrina da Eleição incondicional é enraizada na natureza de Deus. O seu próprio nome, sua própria glória é: “terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de quem eu me compadecer”. Se ele não fosse livre em sua glória, não seria DEUS. Esse é o seu nome.

Cinco textos (existem muitos), do NT que nos revelam aspectos adicionais dessa doutrina:

1) Romanos 9.14-18 – Uma pergunta de Paulo, perante a escolha de Jacó, sobre Esaú: “Que diremos pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum! Pois ele diz a Moisés: terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia, e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não depende de quem quer, ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia. Porque a Escritura diz a Faraó: Para isso mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado por toda a terra. Logo, ele tem misericórdia de quem quer, e também e também endurece a quem lhe apraz”. Paulo extrai de Ex 33.19 a mesma doutrina que estamos falando. A base da misericórdia de Deus não é a MINHA VONTADE, mas a DELE. Quando ESCOLHO a Deus, é porque ele ME ESCOLHEU primeiro. Minha vontade não é soberana nem auto determinante. A de DEUS, é! “Ele tem misericórdia de quem quer ter misericórdia”.

2) Atos 13.48 – Lucas registra a pregação de Paulo na sinagoga de Psídia. Vários se convertem. O Espírito Santo, por intermédio de Lucas, registra o fato do ponto de vista de Deus, indicando como devemos entender as conversões: “E creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna”. Em outras palavras – não foi a crença daquelas pessoas que determinou o destino delas à vida eterna, por Deus. É exatamente o oposto: a ordenação prévia de Deus determinou QUEM iria crer. Fé é um dom de Deus e a salvação pela graça é derramada incondicionalmente sobre quem Deus quer. “Ele tem misericórdia de quem quer ter misericórdia”.

3) João 10.26. Este é um trecho semelhante. Em Atos 13.48 aprendemos porque algumas pessoas crêem. Em João 10.26 aprendemos porque algumas pessoas não crêem: “Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas”. Ou seja, a sua aparência de crença não o torna uma ovelha; você ser uma ovelha o possibilita crer verdadeiramente. Você não se torna um filho de Deus por sua própria iniciativa. Deus o torna um filho de Deus por adoção, mudando a sua natureza de tal modo que você pode crer (João 1.13 – “os quais não nasceram do sangue nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”)! “Ele tem misericórdia de quem quer ter misericórdia”.

4) Efésios 1.4-5 – “Assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade”. Deus preserva sua liberdade e nos escolheu nele próprio, não por nenhum mérito em nós. “Ele tem misericórdia de quem quer ter misericórdia”.

5) 2 Pedro 1.10 – Se a glória e o nome de Deus representam sua soberana liberdade, como deveríamos considerar nossa crença e obediência? Pedro nos dá a resposta. Ele diz: “Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum”. Ou seja – nosso zelo e nossa fé não nos torna eleitos, mas confirmam que somos eleitos. Fé e obediência são dádivas de Deus. Deus não nos escolhe em função de nossa fé, mas temos fé porque Deus nos escolheu. “Ele tem misericórdia de quem quer ter misericórdia”.

Assim, a ELEIÇÃO INCONDICIONAL não é derivada de um só texto. Sua base é ampla e tem um contexto bíblico indisputável.

Mas qual a implicação prática dessa doutrina?

1. Humildade – para o crente mais consagrado – Precisamos nos concentrar no fato de que a nossa fé é uma dádiva não merecida. Estávamos mortos em nossos delitos e pecados. Deus na sua soberana e livre graça, nos reviveu. Qualquer traço de obediência em sua vida é o produto da graça de Deus em sua vida. Isso deveria tirar qualquer orgulho de nossas vidas.

2. Esperança – para o pior dos pecadores – Isso é o que a doutrina deu a Moisés. Ele precisava de esperança. O povo havia caído em terrível pecado. “Ele tem misericórdia de quem quer ter misericórdia”. Se alguém não conhece a Cristo e não tem a salvação, não ache que o seu passado de pecado é um obstáculo intransponível para Deus (Is 1.18).

3. Ânimo à evangelização e a missões – David Brainer “o trabalho entre os índios parecia impossível…”; nossos missionários na Espanha; Paulo em Corinto.

4. Homenagem ao nome de Deus – “Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia”. A sua liberdade soberana é a sua glória. Se conhecêssemos a Deus como ele o é, realmente, seríamos um povo diferente. Seríamos cheios de reverência e obediência. Nos alegraríamos continuadamente pelo muito que fez por nós.

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