A mãe do meu Salvador

O evangelista Mateus cita cinco mulheres na genealogia de Jesus (Mt 1.1-17). São elas: Tamar, mãe de Farés (v. 3); Raabe, de quem nasceu Boaz (v. 5a); Rute, mãe de Obede (v. 5b); Bate-Seba, cujo filho foi Salomão (v. 6b), e, por fim, Maria, a mãe do meu Salvador (v. 16).

É interessante verificar o significado do seu nome. Até porque, entre os antigos hebreus, a escolha do nome encerra um fato na história pessoal, ou uma promessa. Assim, Moisés não teve seu nome colocado aleatoriamente. Seu nome tem sentido. O maravilhoso da história é que tanto tem sentido para o egípcio quanto para o hebraico. Na língua egípcia, a raiz ms significa “filho” (cf. Ramsés = “filho de Ra”; Tutmoses = “filho de Tut”); no hebraico, é “retirado”, no caso, “tirado das águas” segundo o texto bíblico (Ex 2.10). Jesus, que significa “salvação do Senhor” (Mt. 1.21). Sabiam que Esdras é “socorro, auxílio, ajuda”, Davi é “amado” e Salomão é “pacífico”? Tinha idéia de que os nomes das noras de Noeme (cf. Livro de Rute) são, igualmente, muito significativos? A que voltou para Sodoma, Orfa, era “desleal”; Rute quer dizer “companheira”.

O significado do nome Maria (também grafado Mariam e Miriam) é discutível:

– Há quem identifique duas raízes: uma egípcia e outra hebraica. A egípcia é MYR, ou seja, “amada”; a hebraica, YA(M) do nome “Senhor”. Seu nome seria, então, “amada do Senhor”. ? Há quem veja uma raiz descoberta em Ugarite (atual Ras Shamra), na região costeira da Síria: MRYM significa “altura”, ou, ainda, “exaltada, excelsa, sublime”. A propósito, em hebraico existe a palavra marom, que quer dizer, “elevação, importante, alto escalão e excelência”. A partir desta suposição, seu nome seria “A Exaltada”.

– Outra idéia vem a partir do nome Maryam (Maria) que apresenta duas raízes: mar = “amargo” (cf Rt 1.20: “Não me chameis Noêmi; chamai-me Mara, porque o Todo-Poderoso me encheu de amargura”), e yam = “mar”. Daí que Maryam significaria “mar de amargura”, fazendo alusão ao seu sofrimento como mãe à luz da Paixão, do padecimento de seu Filho.

– Uma quarta idéia vê a raiz Miry’ com o significado de “gorda”. Que tem “gorda” com Maria? Muita coisa: para os árabes, ainda hoje, a mulher bonita é a gordinha, cheinha de carne, pois passa a idéia de que é bem tratada, bem cuidada pelo marido ou pelo pai. O padrão de beleza não é o da mulher enxuta, esbelta, corpo de modelo a modo ocidental. Como ser gorda para os semitas é ser bela, então, “Maria, a que é bela”.

Continuamos sem muita certeza do significado do seu nome, mas uma importante coisa sabemos: é que há textos no Antigo Testamento que falam profeticamente desta extraordinária mulher, serva do Deus Vivo, irmã nossa na fé em Jesus Cristo, e mãe do prometido Messias, mãe do meu Salvador. É o caso de Gênesis 3.15, “Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”; Isaías 7.14, “Portanto o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel” (texto repetido em Mateus 1.23), e Miquéias 5.2,3, “Mas tu, Belém Efrata, posto que pequena para estar entre os milhares de Judá, de ti é que me sairá aquele que há de reinar em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade. Portanto os entregará até o tempo em que a que esta de parto tiver dado à luz; então o resto de seus irmãos voltará aos filhos de Israel”.

Mãe de Jesus – Homem (1TM 2.5; GL 4.4)

Sob a inspiração do Espírito Santo, Isabel deu a Maria uma tríplice bênção. O texto encontra-se em Lucas 1.42,45: “Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre!… Bem-aventurada aquela que creu que se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor lhe foram ditas.” Por sua destacada, proeminente, saliente posição entre as demais mulheres, ela seria sempre lembrada. E sem dúvida alguma, Maria é a mulher mais lembrada do mundo em todas as épocas. Basta lembrar que na Outra Igreja há toda uma devoção Mariana, ou seja, em torno desta extraordinária mulher, a mãe do meu Salvador (v.42a); por vir a ser a mãe do Messias de Israel, do Salvador (v. 42b) e por sua fé nas promessas de Deus que nela seriam cumpridas(v. 45).

No entanto, a Bíblia não referenda, não homologa, não aceita, não dá o seu aval a algumas idéias correntes na teologia oficial da Igreja majoritária, nem da teologia popular (estas observações não visam a atacar a doutrina de outros grupos religiosos, mas servem de referência ao que se diz e o que se cultua no nome de Maria):

A expressão de Isabel no verso 43, “…mãe do meu Senhor”, não autoriza a que seja chamada “mãe de Deus”, “mãe da Igreja”, “mãe da vida nova”, “mãe da América Latina” ou “Maria Santíssima”, ou seja, “mais-santa-que-todos-os-demais-santos-de-Deus”. São expressões que não encontram guarida na Escritura Sagrada,
É agraciada (“cheia de graça”), no entanto, a graça em Maria não é qualidade particular dela, mas foi-lhe dada pelo Deus da graça.
É “cheia de graça”, mas não “co-redentora”, título, aliás, associado ao tema da “nova Eva”: já que Jesus é o “novo Adão” de uma nova humanidade (cf. Rm 5.14,17; 1Co 15.21,22,45), ela seria a “nova Eva” dessa nova criação, um antítipo de nossa primeira mãe.
Maria é a mãe de Jesus, o Messias, é a mãe de Jesus Cristo, é a mãe do homem Jesus, é a mãe do Filho de Deus, mas não de Jesus-Deus. Pelo contrário, Jesus rechaçou, com rapidez e veemência, o que poderia ser o início do culto prestado a Maria. Como diz a tradução do Pontifício Instituto Bíblico “Enquanto ele assim falava, uma mulher, erguendo a voz do meio da multidão, disse-lhe: ‘Ditoso o seio que te trouxe e os peitos a que foste amamentado!’ Ele, porém, disse: ‘Ditosos antes os que ouvem a palavra de Deus, e a guardam’” (Lc 11.27,28). Não permitiu que essa devoção fosse adiante.

Paradigmas

A mãe cristã tem padrões pelos quais se pautar: O Deus Vivo e Verdadeiro, o Eterno, que diz, “Sereis santos, porque eu sou santo” (1Pe 1.16; cf. Lv 11.44; 19.2; 20.7). Sim, Ele diz às mães cristãs, “Cultivareis a santidade em vossos lares, porque Eu sou santo”.Diz também “Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial” (Mt 5.48; cf. Tg 1.3,4; Ef 5.1).

Jesus Cristo. Este é o próximo paradigma, pois “Cristo em vós, a esperança da glória; o qual nós anunciamos, admoestando a todo homem, e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, para que apresentemos todo homem perfeito em Cristo” (Cl 1.27b, 28; cf. Rm 8.29).

As santas mulheres da Antiga Aliança. Esta é uma expressão rigorosamente bíblica (cf. 1Pe 3.5). Quem são elas? Sara, mãe de Isaque, matriarca do povo de Israel, que esperou sempre e sempre na fidelidade do Deus das promessas (Hb 11.11), e debaixo da mesma missão do seu marido (1Pe 3.6). É possível que a irmã venha lutando durante tantos anos com um filho rebelde, fora do evangelho, com o marido pródigo que abandonou a casa e precisa retornar. Não esmoreça, minha irmã! Olhe para Sara que esperou, e esperou e esperou até que veio o cumprimento da promessa. Joquebede, mãe de Moisés, previdente e providente. Podia ter perdido seu filho na matança dos meninos promovida pelo faraó conforme relata Êxodo 1.15ss. Com um tremendo senso de oportunidade, preservou a vida do seu filho. Escondeu-o, soltou-o no rio, e o viu ser levado ao palácio real, onde foi criado como neto do próprio faraó. Que coisa absurda para o pensamento humano! (Ex 2.1-4). Ana, mãe de Samuel, a qual, tendo o Senhor ouvido sua oração (1Sm 1.9-11), consagrou o filho e o entregou a Deus. (1Sm 1.21ss). Foi considerada uma mulher embriagada, quando estava orando pelo filho que tanto desejava.

As santas mulheres do Novo Testamento, como Eunice e Lóide, mãe e avó de Timóteo, portadoras de uma “fé não fingida” (2Tm 1.5). Maria, a mãe de Jesus, paradigma da mãe cristã por uma série de razões.

Aqui temos Maria, nossa irmã na fé, esposa e mãe. Sim, nossa irmã na fé, pois não afirmou em Lucas 1.47, “o meu espírito exulta em Deus meu Salvador”? Nosso comum Salvador? Maria, a esposa: por que a insistência em querer ver em José um homem idoso casado com uma jovem de 14 ou 15 anos? Essa a idade aproximada de casamento das jovens no Oriente. Ou, colocando de outro modo, que desonra haveria em, após o nascimento de seu primogênito, Jesus, como diz o Novo Testamento (Lc 2.7) ter assumido suas normalíssimas funções de esposa e de mãe de outros filhos, como também se refere o Novo Testamento (Mt 1.25; 12.47; Jo 7.5). Querem ensinar que os irmãos de Jesus são seus primos. Esquecem-se ou não sabem que há na língua grega três palavras que não podem ser confundidas uma é adelfós (irmão), outras são anepsiós (sobrinho) e xederfos (primo). A palavra utilizada no texto do Evangelho é adelfós, irmão de sangue. Maria como mãe. A Escritura Sagrada faz referência à unção do Espírito Santo sobre homens desde o ventre materno, como Sansão (Jz 13.5), Jeremias (1.5), o Servo Sofredor (Is 49.1), João Batista (Lc 1.15), Paulo (Gl 1.15). Mas Lucas ensina que no caso de Jesus foi além, muito além da unção: foi a Sua própria geração. Jesus não era um homem ungido pelo Espírito Santo como ocorreu com os outros. Foi, porém, a própria geração do Espírito. O Espírito Santo não repousou sobre o ventre de Maria, mas sobre ela mesma, sobre a filha de Sião, a mãe do meu Salvador. Assim, foi ela mesma alvo dessa graça, da sombra do Espírito sobre si:

“Canta alegremente, ó filha de Sião; rejubila, ó Israel; regozija-te, e exulta de todo o coração, ó filha de Jerusalém. O Senhor afastou os juízos que havia contra ti, lançou fora o teu inimigo; o Rei de Israel, o Senhor, está no meio de ti; não temerás daqui em diante mal algum. Naquele dia se dirá a Jerusalém: Não temas, ó Sião; não se enfraqueçam as tuas mãos. O Senhor teu Deus está no meio de ti, poderoso para te salvar; ele se deleitará em ti com alegria; renovar-te-á no seu amor, regozijar-se-á em ti com júbilo” (Sf 3.14-17).

Então, fica a lição: a plenitude da graça não vem dela mesma, mas da presença do Espírito Santo em sua vida.

A MÃE DO MEU SALVADOR
Quais as destacadas qualidades de Maria?

Mulher de Louvor
Guardo com muito carinho a lembrança de, quando criança, garotinho, ouvir a minha mãe cantando. Ela sempre gostou de cantar: no coro, em duetos ou em casa nas lides domésticas. São memórias que não se apagam. Não é para menos no caso de Maria que fosse uma mulher de louvor: pertencia à tribo de Judá, palavra que quer dizer “louvor” (cf. Lc 2.3-5). Sua sensibilidade poética fê-la cantar o lindíssimo e inspiradíssimo cântico conhecido como o Magnificat, o “Cântico de Maria” (Lc 1. 46-55), e que tem sido denominado de “O Evangelho de Maria”, por representar um resumo da história da salvação. A propósito, o Magnificat fala mais do que qualquer outra coisa, do caráter da mãe de Jesus, e de sua capacidade espiritual para seu destino de mulher agraciada. É, outrossim, exemplo de como a alguém fundamentado, enraizado nas Sagradas Escrituras são dados olhos e lábios para contar e cantar o que Deus fez, faz, e continuará fazendo na sua vida como indivíduo e na de seu povo. Só porque o Senhor poderoso tem feito coisas poderosas é que há boas novas para serem narradas, e um evangelho a ser proclamado. Foram contadas doze passagens do Antigo Testamento, sendo que, basicamente, é o “Cântico de Ana” o seu modelo. Isso reflete profunda piedade e conhecimento das Escrituras, qualidade adequadíssima à mãe do meu Salvador.

Mulher Piedosa
Aceita sem reservas a missão de conceber e dar à luz do Filho do Altíssimo, o Filho de El Elyon (cf. Lc 1.31,32,38). E, ainda, expressou essa alegria messiânica do ponto de vista de quem recebeu um imerecido favor. Aliás, isso é chamado pelos teólogos de graça, o favor que não merecemos mas recebemos da parte de Deus, palavra que se encontra nos lábios do mensageiro de Deus (Lc. 1.28,30). De profundíssima piedade, segue fielmente todos os atos de sua fé: a apresentação e a b’rit milah (circuncisão) de seu filho ao oitavo dia (cf. Lc 2.21-24); a aliah (peregrinação) a Jerusalém todos os anos durante a festa do Pessach (Páscoa) para que Jesus pudesse passar pela cerimônia de ser um bar miztvah, a profissão de fé judaica (Lc 2.41).

Mulher de Oração
Atos 1.14 relata que “Todos estes [os apóstolos] perseveravam unanimemente em oração, com as mulheres, e Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele”. Precisava ela de energia espiritual, razão porque perseverava com os irmãos de Jesus, com as outras mulheres (Maria Madalena, Joana, Maria, mãe de Tiago e outras) e com os apóstolos em intensa e fervente oração.

Que extraordinário ministério das mães (e avós) é o da oração. A propósito, já fez a oração de entrega de seu filho a Deus? Quer um precedente bíblico? 1Samuel 1.27, 28: “Por este menino orava eu, e o Senhor atendeu a petição que eu lhe fiz. Por isso eu também o entreguei ao Senhor; por todos os dias que viver, ao Senhor está entregue. E adoraram ali ao Senhor.” Tem orado pelo filho rebelde? Veja a promessa de Jó 22.30: “E livrará até o que não é inocente, que será libertado pela pureza de tuas mãos.” Quantos filhos rebeldes, revoltados, têm retornado aos caminhos do Senhor pro causa da pureza das mãos e da oração de suas mães! Por um jovem chamado Franklin, orava a esposa do Pr. Billy Graham. Ele estava entregue aos maus caminhos. A mãe orava e orava. Ocorreu que ele abandonou a vida que levava, voltou para Cristo, para a igreja. Hoje é o Pr. Franklin Graham, que ficou no lugar do seu pai na direção da grande Associação Evangelística Mundial Billy Graham. Mônica, piedosa cristã da Igreja Antiga, orou intensamente pelo filho, que era um filósofo. Era também extremamente entregue à vida mundana. Um dia, Deus colocou diante dele a Carta aos Romanos. Ele a leu e se converteu. Estou falando de Agostinho, teólogo da Igreja Antiga e pastor na cidade de Hipona, no norte da África, conhecido como Santo Agostinho. Escreveu As Confissões, Da Verdadeira Religião, A Cidade de Deus, Da Trindade, Da Mentira. Lendo as suas confissões, é possível entender o que ele experimentou na vida, e como teve uma sede tão intensa de Deus que não pode deixar de mencioná-Lo em praticamente cada página dessa obra.

Tem orado por seu filho que anda com fidelidade nas avenidas da fé, o filho consagrado? É preciso olhar para o filho que nunca se afastou do evangelho. Sempre fiel, firme, constante e abundante na obra do Senhor. Se ora pelo filho rebelde, ore e agradeça a Deus pelo filho que nunca lhe deu trabalho. Afinal, “desde o dia em que ouvimos, não cessamos de orar por vós, e de pedir que sejais cheios do pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual; para que possais andar de maneira digna do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus” (Cl 1.9b, 10).

Os quatro Evangelhos, como de resto todo o Novo Testamento, são extremamente lacônicos sobre Maria, a mãe do meu Salvador. Esse fato deixa claro que ressaltado deve ser apenas o Seu Filho, o Senhor Jesus Cristo. Maria foi o canal pelo qual o Filho de Deus veio ao mundo, veio estar entre nós, o Deus-em-nosso-meio o Emanuel. Somente ao Seu Nome deve se dobrar “todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai” (Fp 2.10, 11).

Múcio Teixeira escreveu um inspirado poema onde diz

Ó mães! Da mãe de Cristo despertais lembranças,
Nessa augusta missão tão cheia de poesia;
Quando embalais ao colo as tímidas crianças,
Eu penso ver Jesus nos braços de Maria.

Vós sois uns anjos bons de amor e de piedade!
Tendes um ninho em flor nos seios virtuosos;
Nos filhos refletis vossa felicidade,
Como um límpido espelho os corpos luminosos.

Vós sois a inspiração primeira dos poetas;
Vós sois o pensamento extremo dos doentes…
Quem antes osculou a fronte dos profetas,
Vindo a cerrar, mais tarde, os olhos dos videntes,
Ó mães! Da minha mãe vós me trazeis lembranças…
Encheis-me de saudade! Eu amo-vos por isto…
Quando embalais, cantando, aos seios, as crianças,
Eu sonho, ver Maria, acalentando o Cristo!

Igreja Batista Sião
Seminário Teológico Batista do Nordeste em Salvador Salvador, BA

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