A abelha e o beija flor

Havia em um certo jardim uma abelha que vivia se deliciando do néctar das flores. Todas as manhãs ela saia de sua colmeia e voava por entre as flores, alegre e feliz. Aquele jardim era somente seu. As outras abelhas ficavam perto da colmeia. Ela não. Todos os dias voava longe, até chegar no seu paraíso, onde podia escolher livremente a flor que lhe serviria de banquete.
Mas certo dia, ela notou algo diferente. Foi em uma flor e não encontrou o precioso néctar. Foi na outra, e também havia sido sugada. Então ela pensou: – Será que minhas companheiras encontraram meu paraíso.
Enquanto pensava nisso, foi surpreendida por uma visão que a deixou atordoada.
Perto dela, a poucos metros da flor onde estava, havia um beija flor, sugando o néctar de uma linda rosa vermelha. Furiosa, a abelha voou até ele e, com o ferrão pronto para atacar, disse:
– Quem deu permissão para você vir mexer nas minhas flores? Não sabe que este jardim é meu?
Espantado, o beija flor olhou para a abelha e disse:
– Bom dia, dona abelha!
– Que bom dia, nada?. Disse furiosa a abelha. Quem deu permissão para você vir aqui sugar as minhas flores
– Eu não sabia que elas eram suas. Pelo contrário, pensei que elas fossem do Criador.
– Elas são minhas, sim. Eu as encontrei primeiro. Não vou dividi-las com ninguém. Eu venho de longe todos os dias para sugar o néctar de cada uma delas. Conheço todas, desde que eram ainda pequenas. Você não tem direito de invadir meu jardim.
– Mas existem tantas flores aqui. E, afinal de contas, o Criador disse que temos que repartir o que temos com os outros….
– Mas eu não reparto nada com ninguém. Elas são minhas e pronto.
Nesta hora, a abelha foi surpreendida por um pardal, que com muita fome, resolveu arriscar sua sorte, tentando devorar a abelha. Quando ela o viu, voou feito louca por entre as flores, seguida de perto pela ave esfomeada.
Já cansada e vendo que iria se tornar um banquete para o pardal, ela olha para o beija flor e implora ajuda. O beija flor então voa na direção do pardal, conversa com ele, que logo voa para longe. Ainda assustada, a abelha pergunta para o beija flor:
– O que você disse para ele que fez com que ele fosse embora tão rápido?
– Eu lhe disse que ali na frente, não muito longe daqui, há uma casa com um lindo jardim. Nele existem muitas flores, tão bonitas como estas. Disse-lhe também que todas as manhã, por volta desta hora, o jardineiro joga muita comida para os pássaros. E ai eu lhe perguntei se ele não preferiria ir lá para se deliciar ao invés de ficar aqui, onde há apenas uma pequena e solitária abelha como alimento.
Vendo que sua vida fora salva pelo beija flor, a abelha disse, um tanto quanto comovida:
– Perdoe-me pelo meu egoísmo. Pode vir sempre que quiser colher o néctar destas flores. Afinal, elas são tantas e eu não dou conta de todas.
Assim, os dois se tornaram grandes amigos e, todas as manhãs, antes de iniciarem seu banquete, conversavam um pouco sobre tudo aquilo que o Criador havia lhes dado.
Quando deixamos de ser egoístas conquistamos grandes amigos e descobrimos que aquilo o Criador nos deu pode ser o caminho para a conquista de grandes amizades.

Contribuíção de Paulo Cesar Ramalho
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