Como orar

Introdução

A expressão “quando orardes” (6.5) mostra que a oração é prática natural na vida dos discípulos de Jesus. Orar, para o cristão, na vida espiritual, é tão natural quanto comer e beber na vida material!
No entanto, concordamos com Paulo quando ele diz que “não sabemos orar como convém” (Rm 8.26). Logo, precisamos aprender a orar. Os discípulos pediram para que Jesus os ensinasse quando observaram o Mestre orando (Lc 11.1). Em resposta, ele nos deixou o modelo de oração conhecido como “oração dominical” , ou oração do Senhor (Lc 11.2-4; Mt 6.9-13).
No nosso texto, além do modelo, ele nos dá instruções preciosas sobre a oração. Ele é o Mestre por excelência, pois só ensina o que praticou na sua vida e ministério! COMO ORAR? Vamos, pois, aos seus ensinos.

1º – DEVEMOS ORAR NA INTIMIDADE COM O PAI

– A oração não é exibicionismo de vida piedosa. Quem ora para ostentar-se é o hipócrita (6.5). O discípulo de Jesus não faz isto.
– Antes de ter uma vida pública de oração, o discípulo cultiva comunhão íntima com Deus como o Pai celestial (6.6). A figura do Pai aplicada a – Deus mostra que a oração expressa relação afetiva e íntima com Deus! Essa figura é muito pouco usada no Antigo Testamento, mas, no Novo Testamento, temos o testemunho de que o FILHO nos revela o PAI (Mt 11.25-27). Através de Jesus, somos introduzidos na comunhão com o Pai (Hb 10.19-22). Essa comunhão é permanente porque o Espírito Santo habita em nós (Jo 14.18, 23).
– A oração na intimidade com o Pai é diálogo. Tanto falamos com Deus como o ouvimos falando ao nosso coração! Essa vida de oração é real e nos capacita a termos uma vida produtiva na nossa comunhão com os irmãos. É o que chamamos de “Quarto de Escuta”.

2º – DEVEMOS ORAR COM NATURALIDADE

– As “vãs repetições” (6.6-7) são fórmulas e rituais usados pelos pagãos para “forçar” os deuses a conceder favores para os seus adoradores. Essa tentativa pode ser percebida nos adoradores de Baal quando em confronto com o profeta Elias (1 Reis 18.26-29). Hoje ainda se usam fórmulas, rituais, “trabalhos” para tentar Deus ou os ídolos a fazer o que as pessoas querem. Todas as práticas que tentam manipular Deus em favor dos adoradores, sejam praticadas por macumbeiros, benzedeiras, pastores ou padres, são práticas mágicas que nada tem a ver com a oração cristã, ensinada por Jesus.
– Oração é comunhão. O Pai não precisa ser forçado, manipulado, pressionado. Ele sabe o que precisamos (6.8; Mt 6.32). Ele fala através do projeta Isaías: “E será que, antes que clamem, eu responderei; estando eles ainda falando, eu os ouvirei” (Isaías 65.24). Ao contrário dos profetas de Baal, Elias orou com toda a naturalidade e Deus respondeu com fogo (1 Reis 18.36-39).
– Quando não sabemos orar como convém orar, o Espírito Santo intercede por nós e Deus nos abençoa (Rm 8.26-27).

3º – DEVEMOS ORAR COMO PARTE DA FAMÍLIA DE DEUS

– O modelo de oração ensinado por Jesus começa com a expressão “Pai nosso”. Mesmo quando oro no quarto com a porta fechada, dirijo-me ao Pai que não é só meu. Ele é o Pai nosso!!! Um dos reformadores escreveu que através da oração e adoração eu chego à presença do Pai e contemplo a sua face; mas percebo que a sua face está voltada não só para mim, mas para toda a humanidade; então, a minha face se volta também para os meus irmãos e o efeito prático da oração é o serviço a Deus e aos irmãos. A oração dominical é essencialmente comunitária. Os verbos e pronomes estão todos no plural.
– Na oração dominical buscamos, em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça; depois, as outras coisas que são acrescentadas. Isto é muito diferente da oração pagã ou da oração cristã paganizada!
– O REINO DE DEUS E A SUA JUSTIÇA: a) Santificado seja o teu nome, isto é, que a santidade e a glória de Deus se manifestem no mundo através dos seus discípulos: b) Venha o teu reino, isto é, que o poder e a autoridade do reino já se manifestem hoje no mundo através dos crentes e adoradores; que o poder soberano do Pai esteja acima de todos os poderes que se opõem à justiça de Deus; que o reino eterno seja definitivamente instaurado com a volta do Senhor em glória; c) Seja feita a tua vontade na terra, assim na terra como no céu, isto é, que predomine em tudo a vontade de Deus que é boa, perfeita e agradável (Rm 12.2).
– AS OUTRAS COISAS: a) o pão nosso de cada dia dá-nos hoje. Pedimos o suprimento das necessidades básicas da vida como alimentação, saúde, habitação, educação etc; b) e perdoa as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado os nossos devedores. A comunhão com Deus e a comunhão com os irmãos, essencial na vida de oração, só pode ser mantida se houver perdão. Perdoamos uns aos outros, como Deus nos perdoou em Cristo. Sem perdão, não há vida cristã real, verdadeira, plena e abundante!; c) e não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. A tentação é inevitável. Na oração sacerdotal, Jesus pediu: “Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal” (Jo 17.15). Pela tentação, o diabo tenta nos destruir; mas Deus permite a tentação para que sejamos provados e aprovados (Tg 1.12). Essa súplica é preventiva. Se oramos diariamente, Deus não nos livra da tentação, mas não deixa cairmos em tentação e nos livra do mal (maligno)!
– A oração dominical é tanto um modelo que podemos usar quanto um guia para a nossa vida de oração!

Conclusão

Das seis petições da oração, Jesus comentou apenas uma: a que pede o perdão de Deus como também perdoamos os nossos devedores. O comentário de Jesus é claro: Porque se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens (as suas ofensas), tão pouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas (6.14-15).
A falta de perdão destrói a comunhão e bloqueia as orações. Perde-se a arma mais poderosa para vencermos na luta pessoal e nas nossas lutas como povo de Deus. Quando apenas duas pessoas estão em comunhão com Deus e uma com a outra, o que pedem a Deus é respondido (Mt 18.19). As orações feitas na terra movem o céu quando os cristãos levantam as suas vozes a Deus unânimes em oração (Atos 4.24-31)! Esse é o desafio para nós!

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