(22) Mulheres, sujeite-se cada uma a seu marido, como ao Senhor, (23) pois o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, que é o seu corpo, do qual ele é o Salvador. (24) Assim como a igreja está sujeita a Cristo, também as mulheres estejam em tudo sujeitas a seus maridos.
PRESSUPOSTOS GERAIS
1. Entendemos que a Bíblia ainda é o livro que rege as nossas vidas. Por ser a Palavra de Deus, a ela nos submetemos, a ela, não à interpretação, que varia e muda. Somos cativos da Palavra de Deus, não da interpretação, seja ela de cristãos ou de não cristãos, e nem da ideologia de nosso tempo, que muda como muda o tempo. Mesmo assim, a Bíblia nos fala de princípios, que são imutáveis, porque inspirados por Deus, que conhece o tempo e não muda com ele. O que nós pensamos deve estar em conformidade com a Bíblia, não com a nossa interpretação, mas com o texto, que precisamos nos expor a ele para que ele nos exponha o conselho de Deus, o verdadeiro conselho de Deus, não o nosso, que tentamos tornar divino.
2. Mesmo que o contexto histórico em que surgiu o conselho de Deus, este conselho continua sendo de Deus, mesmo que o contexto seja outro, e será sempre outro. O contexto, no entanto, é fundamental para entendermos o sentido do texto e para o aplicarmos ao nosso contexto.
3. Por mais elevados que sejam os padrões bíblicos para as nossas vidas, são padrões para nós. Se nós nos comprometermos em os viver, seremos felizes. Precisamos saber que os padrões bíblicos se inscrevem numa ordem espiritual, não numa ordem natural; para ficarmos com os padrões naturais, não precisaríamos da Palavra de Deus. É a realidade que deve se conformar à Palavra de Deus, e não o contrário.
2. PRESSUPOSTOS ESPECÍFICOS
1. O ensino paulino sobre a mulher está adiante do seu tempo.
A sociedade romana, em relação a família, era muito diferente da nossa. O casamento romano não tinha nada a ver com amor. Era arranjado pelas famílias. Quando casada, uma mulher romana estava sob a jurisdição do seu marido ou do pai dela, dependendo do tipo de contrato celebrado. Liberdade para mulher só quando era infértil e tinha que voltar à casa do pai. O propósito do casamento era garantir a sucessão familiar, para que os espíritos dos mortos fossem honrados.
A razão para o casamento não era o amor, mas a procriação. Por esta razão, o divórcio era natural quando a mulher não pudesse cumprir esta sua função. O homem geralmente era promiscuo, naturalmente. Algumas esposas também o eram, mas discretamente, porque seu gesto poderia ser considerado infidelidade. O do homem, não.
Um homem geralmente se casava aos 30 anos, e uma mulher aos 18, ou antes. Cabia ao homem ensinar essa adolescente a viver na nova casa, uma casa onde havia escravos e era semi-pública; não era um refúgio como o nosso lar hoje. A expectativa média de vida da mulher na Roma antiga era, no máximo, de 30 anos. Eis o epitáfio de uma destas mulheres (Vetúria): casada aos 11, mãe de seis filhos e falecida aos 27.
As mães precisavam ter muitos filhos, porque não se sabia quantos sobreviveriam. Os maridos da aristocracia esperavam que suas esposas estivessem permanentemente grávidas. Os pobres, não, por falta de recursos para sustentar os filhos. As mulheres não podiam escolher ter ou não ter filhos. Além da maternidade, as mães podiam participar da educação dos filhos.
As mulheres não tinham qualquer possibilidade de escolha pessoal. Elas estavam sempre sob a supervisão dos seus pais, parentes masculinos e maridos, que geralmente as beijavam na boca… para sentir se tinham bebido vinho, algo proibido para mulheres, por estimular ao adultério.
O mundo romano antigo era a cultura patriarcal, com os homens controlando todas as posições de poder. Mulheres e crianças não tinham qualquer poder.MASON, Moya K. Roman Women: A Look at their Lives. Disponível em < http://www.moyak.com/researcher/resume/papers/roman_women.htmlAncient>.
Uma mulher raramente acompanhava seu marido e filhos às refeições. E só podia comer quando acabasse a conversa à mesa, onde não podia se assentar, mas num banco ao fundo.
Na família romana, portanto, a idéia de igualdade no lar simplesmente não existia.
Se as mulheres de nosso tempo tivessem consciência desta informação, seriam menos resistentes aos ensinos do apóstolo Paulo, que promove uma revolução, ao pedir algo absurdo para o seu tempo: que os homens amem e respeitem suas esposas.
2. Para entendermos a recomendação paulina acerca da submissão, precisamos ler tudo o que o apóstolo fala sobre elas em suas epístolas. Ele não se contradiz e com ele aprendemos, entre outras afirmações:
– “No Senhor, todavia, a mulher não é independente do homem, nem o homem independente da mulher. Pois, assim como a mulher proveio do homem, também o homem nasce da mulher. Mas tudo provém de Deus” (1Coríntios 11.11-12).
– “Todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus, pois os que em Cristo foram batizados, de Cristo se revestiram. Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus” (Gálatas 3.26-28).
3. Embora possamos ter algumas dúvidas sobre como entender a recomendação paulina acerca da submissão da mulher, podemos ter certeza do que o texto não diz:
. Paulo não diz que a mulher não pode ocupar funções de liderança, inclusive de ser pastora. Quem lê o livro de Atos dos Apóstolos e as cartas paulinas nota, com abundância, a consideração que tinha para com elas em seu ministério.
. Paulo não aplica a submissão da esposa a todas as áreas da experiência humana. A instrução é específica ao contexto da vida de uma família cristã e não se aplica à política, aos negócios e nem mesmo à igreja.
. Paulo não recomenda que a esposa deve obedecer ao seu marido, como se não tivesse gosto ou vontade próprios. Filhos e servos devem obedecer. Esposas devem se submeter. Portanto, quando fala dos deveres dos filhos e dos servos, Paulo pede que obedeçam a seus pais e a seus senhores (hupakouete). Quando orienta as esposa, ele pede que se submetam (andrasin). Esta diferença não pode ser ignorada para entendermos o sentido da instrução paulina. A diferença não pode ser desconsiderada. A mulher não deve se esconder atrás desta submissão para se livrar de suas responsabilidades, como Eva tentou fazer. Safira foi tão culpada quanto Ananias, e morreu junto com o marido porque também pecou. A mulher tem o direito e o dever de discordar do seu marido, se for o caso.
. Paulo não autoriza o marido a tratar sua esposa como pessoa inferior, como se fosse ele um déspota que reinasse sobre sua mulher. Paulo não autoriza o marido a tratar sua esposa como uma criança a ser cuidada, porque incapaz. Paulo não admite que o marido possa desrespeitar sua esposa, humilhando-a (porque ela não trabalha fora, por exemplo), vigiando-a (por causa do ciúme doentio), proibindo-a disto ou daquilo (estudar, trabalhar fora, participar de uma igreja), tratando-a como empregada ou prostituta particular, sufocando-a em suas necessidades. Paulo não sinaliza que o marido pode cometer violência, física ou psicológica, contra sua esposa, porque Deus não é cúmplice da covardia.
O SIGNIFICADO DA SUBMISSÃO DA MULHER AO MARIDO
1. Marido e mulher são seres diferentes.
A submissão feminina, biblicamente entendida, é o reconhecimento das diferença de gênero. Homem e mulher são diferentes, logo têm papéis diferentes, que devem ser valorizados. Ambos podem se destacar no mundo dos negócios, da política, da educação e da ciência, mas há papéis, biologicamente ou culturalmente dados, que cabe a cada um. No desenvolvimento destes papéis, homem e mulher, marido e esposa, são complementares.
Tornou-se politicamente correto afirmar a igualdade absoluta entre masculino e feminino, mas esta assertiva é equivocada se não incluir a dimensão da diferença, sem superioridade, sem inferioridade.
Casados, seu casamento terá futuro quando, vocês entenderem, valorizarem e cultivarem suas diferenças. Seu casamento enfrentará turbulencias quando um desejar mudar o outro naquilo que tem de diferente.
2. A submissão feminina, biblicamente entendida, é a afirmação que o relacionamento entre marido e mulher deve ser exclusivo, no sentido de ser um para o outro. O amor e o cuidado devem ser mútuos, com um servindo ao outro. Nem homem nem mulher é mais importante do que o outro aos olhos de Deus (Gálatas 3.28), pois Deus os criou à sua imagem (Gênesis 1.27) e os tornou co-herdeiros do dom da graça da vida manifestado em Cristo Jesus (1Pedro 3.7).
Casados, gastem tempo juntos; façam planos juntos; criem juntos seus filhos; ensinem-nos juntos sobre a bênção da fé cristã. Quanto mais tempo gastarem juntos e quanto mais servirem um ao outro, quanto mais se deixaram preencher por Deus e quanto mais crescerem na semelhança de Cristo, mais terão do amor, da alegria e do poder do Espírito Santo em suas vidas. Autor anônimo. What’s a marriage for? a word from Ephesians 5:18-33. Disponível em < http://www.cbeinternational.org/new/E-Journal/2004/Summer2004/May04Article2.htm>. O casamento é o espaço da cooperação.
3. A submissão feminina, biblicamente entendida, quer dizer que uma família precisa de uma liderança. Nenhum organismo social vive sem uma liderança. Nem mesmo uma família, que precisa de uma liderança para o planejamento do futuro e para a tomada de decisões. Marido e mulher podem inclusive se especializar na liderança. O casal pode combinar, por exemplo, que a gestão financeira poderá ficar sob a responsabilidade daquele que for mais capaz (isto é, daquele que sabe gastar menos…)
Uma eventual especialização não altera o papel do homem na vida familiar. Muito do que há de pior nas famílias advém da omissão masculina. Portanto, numa situação ideal, em que o casal busca a plenitude do Espírito Santo, a liderança é masculina. No entanto, vivemos num mundo decaído, presentes o abandono, a infidelidade, a insanidade, a violência doméstica e a dependência química.
Nessas condições de exceção, a esposa deverá tomar a liderança do casal e da família, para que a tragédia não seja maior.
Uma esposa abandonada não pode esperar que o marido ausente lidere a família; esta tarefa tem que ser assumida por ela, se não quiser que a fome campeie e a desagregação se estabeleça de modo definitivo.
Uma esposa sabidamente traída precisa assumir sua dignidade, não esperando que um marido adúltero diga a ela e a seus filhos como devem agir. Um marido infiel está moralmente incapacitado para liderar a família.
Uma esposa física ou emocionalmente agredida por seu marido está desobrigada em aceitar a violência como decorrência da liderança masculina. A violência de um homem contra sua esposa é uma demonstração de insanidade, que o desqualifica como líder. A mulher tem o dever de preservar sua saúde física e emocional, buscando uma delegacia, se for o caso, para denunciar seu cônjuge.
Uma família em que o marido/pai ficou enfermo mentalmente não deve esperar que ele assuma seu papel de líder enquanto precisa de recuperação. Ele deve ser respeitado, amado, querido, mas não pode ter sobre si mais este peso, que o debilite ainda mais. A esposa precisa assumir a liderança da casa e até do tratamento do esposo.
Uma família em que o marido/pai se tornou dependente de drogas, seja o álcool ou os tóxicos, não pode permitir que um homem com esta dependência lidere a casa, sob pena de um naufrágio coletivo, uma vez que a dependência devasta a saúde física, emocional e financeira de uma família. A esposa deve assumir a liderança e investir na recuperação do esposo.
4. A submissão feminina, biblicamente entendida, tem o mesmo peso que o amor masculino. Devem as esposas se submeter a seus maridos? Sim. Mas os maridos devem amar as suas esposas. Amar é a forma masculina da submissão feminina.
A submissão feminina e o amor masculino deve ser no Senhor, o que quer dizer que a submissão e o amor são dedicados primeiramente ao Senhor. Ambos são para honrar ao Senhor. Não são os maridos os primeiros destinatários da submissão e as mulheres os primeiros destinatários do amor, mas o Senhor; maridos e mulheres são destinatários em segundo plano. É por isto que o casamento é mais que um contrato entre duas pessoas; na verdade, é um espelho entre Cristo e a igreja. Ele reflete Cristo e ela reflete a Igreja. BRAND, Chad. Christ-Centered Marriages: Husbands and Wives Complementing One Another. Disponível em < http://www.baptist2baptist.net/printfriendly.asp?ID=230>
5. O ideal da submissão feminina e do amor masculino, no casamento, se aplica à questão da liderança masculina. Paulo afirma que “o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, que é o seu corpo, do qual ele é o Salvador” (verso 23).
Mais uma vez, estamos falando num plano espiritual, não natural. No plano natural, a legislação brasileira não estabelece mais o marido como chefe da família. Ao fazê-lo, a lei apenas reconheceu o que acontece em muitas comunidades: há famílias sem maridos e pais, com as mulheres acumulando as duas funções; há famílias com maridos presentes mas ausentes nos seus compromissos e deveres. Num documentário recente, na televisão, ouvi uma mulher dizer: “eu chegava, punha a conta na mesa; se eu não pegasse, o papel ficaria velho; ele só queria beber”.
Numa família que procura viver sob o Espírito de Deus, o padrão é outro. Nela o marido assume o seu papel, amando a sua esposa, amando os seus filhos, sem se impor com frases do tipo “aqui quem manda sou eu”, próprias dos fracos.
Maridos, lamento dizer que a liderança tem um peso e não é sobre a mulher; é sobre o marido, que deve se comportar com sua esposa como Cristo se comportou em relação à igreja. Jesus Cristo, “embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz!” (Filipenses 2.6-8) Preciso ler mais algum texto?
Submissão é uma atitude do coração, não um ato. Um casamento triunfará se for entre iguais. Um casamento entre iguais vai além de papéis e fórmulas. Só o casamento entre iguais permite a verdadeira intimidade. O casamento é o espaço da comunhão entre iguais.
Se for baseado na autoridade, o casamento fracassará, mesmo que os dois continuem coabitando. O relacionamento no casamento não é de hierarquia, com o marido no trono e a mulher no chão, mas de parceria.