O Senhor Deus é o Deus que salva o seu povo.

Logo depois da morte de Moisés, o levantou Josué para liderar o seu povo. Josué recebeu do senhor a tarefa de liderar Israel na conquista da terra que Ele havia prometido, a terra de Canaã. O livro de Josué nos revela a fidelidade de Deus à sua promessa de conceder ao seu povo a terra prometida. Neste livro nós lemos acerca da vitória de Israel sobre os povos inimigos e a posse da terra de Canaã que foi dividida pelas doze tribos. O livro de Josué, assim como toda a Bíblia, não tem como propósito exaltar homens ou povos por seus grandes feitos, mas glorificar a Deus por seus poderosos feitos em favor da salvação do seu povo.
Moisés, Josué e outros homens de Deus não salvaram ninguém. Eles foram apenas servos daquele que é o Grande Salvador do seu povo, o senhor Deus. A salvação de Israel não está baseada na habilidade ou poder de homem algum, mas no poder, na fidelidade e na graça do senhor. Josué, que foi o grande líder de Israel depois de Moisés, reconhece esse fato. Ele sabe que não foi mediante sua própria força, mas pelo poder de Deus que Israel conquistou Canaã. O Seu próprio nome já indica que não é ele quem salva, mas o senhor (Josué = Javé é Salvação ou Aquele que salva). Todo trabalho realizado por Josué (vitórias, conquistas) foi uma manifestação clara da ação de Deus em favor da salvação do seu povo.
Josué sabe disso. Por isso que Josué, após ter cumprido sua missão e estando já no final dos seus dias, reúne todo o Israel para lhe dar suas últimas instruções. No capítulo 23 ele chama todo o povo a uma vida de obediência e santidade na terra prometida em resposta à bondade do senhor para com eles. No capítulo 24, Josué fala suas últimas palavras a Israel. No início do seu sermão (vs.1-13, nosso texto), Josué apresenta, de forma resumida, os atos de salvação do senhor em favor de Israel. Josué traz à memória do povo de Israel a fidelidade e o poder do senhor em favor da salvação do seu povo desde o tempo de Abraão até a libertação do Egito, a vitória sobre os inimigos e a conquista da terra de Canaã. Na verdade é o próprio Deus quem está falando ao seu povo por meio do seu servo Josué. Ouçam a boa notícia que Deus tem para nós no nosso texto:

1. Salvação do Egito.

Uma das grandes obras de salvação realizadas por Deus em favor do seu povo foi a libertação do cativeiro egípcio nos dias de Moisés. Mas antes de atentar para este ato maravilhoso de Deus, devemos nos perguntar: O que levou Israel a se tornar escravo do Egito? Sabemos que o povo de Deus foi primeiramente habitar no Egito não como escravos. Isso aconteceu nos dias de Jacó e José. José, sendo governador do Egito, trouxe seu pai Jacó e seus irmãos para viver numa boa terra no Egito (70 pessoas). Israel vivia uma vida próspera e alegre no Egito e contava com o favor do rei Faraó por causa de José. Porém, com o passar do tempo, morreu Jacó, morreu José, mas o povo de Deus se multiplicava cada vez mais. Além disso, um outro Faraó que não conhecia José assentou-se no trono do Egito. Este resolveu escravizar o povo de Deus. Israel permaneceu como escravo no Egito por um período de quatrocentos anos. Mas por que tudo isso aconteceu? A escravidão de Israel no Egito não aconteceu por acaso, mas de acordo com o propósito de Deus. O que Deus tinha dito bem antes a Abraão? (ler Gn. 15.13). Mas o senhor também prometeu julgar a nação que escravizasse seu povo e, ao mesmo tempo, dar livramento ao seu povo (Gn. 15.14).
Essa promessa se cumpriu quando o senhor ouviu o clamor do seu povo no Egito e enviou Moisés e Arão para salvá-lo. Em poucas palavras, Josué menciona este grande acontecimento realizado por Deus: “Então, enviei Moisés e Arão e feri o Egito com o que fiz no meio dele; e, depois, vos tirei de lá” (v. 5). Deus não se esqueceu do seu povo. Ele deu a Moisés e Arão não somente a missão, mas também o poder para libertar o seu povo da escravidão do Egito. Estes homens eram membros do povo de Deus e foram poderosamente usados por Deus para salvar o seu povo. Por meio deles, especialmente através de Moisés, o senhor feriu o Egito. Isto se refere às dez pragas que Deus enviou contra Faraó e todos os egípcios que não queriam deixar sair o povo de Deus (Ex.7-12; Sl. 105.26-36). Essas dez pragas expressam o juízo de Deus sobre o Egito. Aquela nação ímpia e pagã que tinha escravizado o povo de Deus provou do poder da ira de Deus. Ao mesmo tempo, o senhor, com mão poderosa e braço estendido e em fidelidade à sua aliança com Abraão e seus descendentes, fez o seu povo sair do Egito.
Faraó não ficou nem um pouco satisfeito com a saída de Israel do Egito. Afinal de contas ele não teria mais lucro com o trabalho escravo dos israelitas. Sendo assim, ele juntou todo o seu exército e perseguiu o povo de Deus até o mar vermelho. Josué menciona esse fato (v. 6). E agora? Será que Israel seria destruído por Faraó e seu exército? De forma alguma. Deus está no controle dos acontecimentos. Ele está agindo em favor da salvação do seu povo. O senhor mesmo endureceu o coração de Faraó para perseguir o seu povo. Por que Deus fez isso? Para assustar o seu povo? Não. O senhor vai manifestar a sua glória. Sua glória será manifesta nas águas do mar vermelho: tanto no livramento do seu povo como no castigo final que ele está preparando para os egípcios. Israel teve medo do Egito, mas o SENHOR mostrou o seu poder para trazer paz e salvação ao seu povo (v. 7). Israel passou a pé enxuto pelo mar vermelho, enquanto que Faraó e seu exército foram cobertos pelas águas e mortos. A glória de Deus se manifestou não só no meio do Egito com o envio das dez pragas, mas também nas águas do mar vermelho. Assim, o senhor salvou o seu povo do Egito. Ele tirou o seu povo da casa da servidão e o fez um povo livre para serví-lo. Israel foi liberto da escravidão do Egito para servir com alegria e liberdade ao Deus Vivo e Verdadeiro que os salvou por sua bondade e poder.
A salvação de Israel da escravidão do Egito aconteceu num determinado momento da história, mas não é um fato isolado na história da salvação. A salvação de Israel do Egito nos revela duas coisas importantes:
Ao salvar o seu povo do Egito, o senhor mantém a sua aliança com Abraão a fim de preservar o seu povo e trazer do meio desse povo o descendente de Abraão, a saber, Jesus Cristo, em quem as nações da terra serão abençoadas com uma grande salvação. Na salvação de Israel do Egito, o senhor está trabalhando para a grande salvação que Cristo realizará em favor do seu povo na plenitude do tempo.
A salvação de Israel do Egito não é apenas mais um passo no plano redentivo de Deus de salvar seu povo por meio de Cristo, mas é também uma prefiguração da perfeita salvação que Cristo realizou para nós na cruz. Assim como Israel foi liberto da escravidão do Egito, nós fomos libertos da escravidão do pecado e do diabo mediante o sacrifício de Cristo. Por meio de sua morte, Cristo nos deu um grande livramento. Por seu poder ele nos livrou não da tirania de Faraó, mas de algo muito pior. Ele nos livrou do poder do pecado, do diabo e da própria morte. Ele conquistou para nós uma grande e perfeita salvação. Nele, tanto nós quanto os israelitas que foram libertos do Egito e que entraram na terra prometida e creram na promessa de Deus de enviar o Salvador, somos um povo verdadeiramente livre e salvo para servir a Deus.
Aquele povo para quem Josué proferiu suas últimas palavras eram testemunhas e conhecedores da bondade e do poder de Deus em favor deles, a fim de salvá-los do Egito. O senhor não está revelando nada de novo para o seu povo. Através de Josué, ele simplesmente repete, em frases curtas e diretas, o que ele já tinha feito em favor da salvação do seu povo. Israel tinha conhecimento dos atos de Deus em favor deles. Por que então Deus faz questão de relembrar ao seu povo que ele os salvou do Egito naquele momento em que eles já estão na terra prometida? O senhor não quer que o seu povo esqueça o que ele já fez no passado para salvá-lo. Pois esquecer a salvação do senhor leva a uma vida de ingratidão e desobediência. Deus não quer isso no meio do seu povo. Ele sabe que o seu povo, por sua fraqueza natural, corre o perigo de esquecer sua salvação e viver no pecado. Deus relembra o grande acontecimento da salvação do Egito para despertar o seu povo a uma vida de gratidão mediante a alegre obediência aos seus mandamentos. Aquele povo salvo que já estava na terra prometida deveria ser um povo alegre e grato por sua salvação, pois eles viram o que o senhor fez por eles no Egito. E quanto a nós? Devemos ser mais alegres e gratos do que eles pela salvação do senhor. Pois somos mais privilegiados dos que os israelitas. Eles esperavam a salvação do senhor através do Messias. Nós testemunhamos pela palavra de Deus a grande salvação que o SENHOR adquiriu para nós na cruz do Calvário através daquele que veio para nos salvar, Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

2. Salvação na peregrinação.

Logo depois que salvou o seu povo do Egito, o senhor não o colocou logo na terra prometida, mas deixou Israel habitar no deserto por muito tempo (v. 7b.). Israel peregrinou no deserto por quarenta anos. Será que Deus se esqueceu da sua promessa? Ele salvou Israel do Egito para depois abandoná-lo no deserto? De forma alguma. Deus tem um propósito maravilhoso em tudo o que faz. Ele faz todas as coisas cooperarem para o bem do seu povo. No deserto, o senhor não se esqueceu do seu povo, mas o guiou durante toda peregrinação. Naquela longa jornada de quarenta anos, o senhor não deixou faltar nada para o seu povo. Ele deu a sua palavra; ele foi à frente de Israel para apontar o caminho; ele deu comida e bebida; ele livrou Israel de todos os povos inimigos que tentaram atrapalhar sua peregrinação à terra prometida. Josué não apresenta com detalhes todos os atos que Deus fez em favor do seu povo na peregrinação. Ele se concentra nas vitórias que Deus concedeu a Israel contra povos inimigos para então conquistar e possuir a terra prometida. Josué relembra ao povo os livramentos que Deus deu a Israel um pouco antes e logo depois que eles atravessaram o rio Jordão para conquistar a terra. Ele relembra pelo menos três atos de livramento que Deus deu ao seu povo antes de possuir totalmente a terra prometida:
O senhor livrou o seu povo das mãos dos amorreus (v. 8). O termo “amorreu” é usado num sentido geral para indicar todos os habitantes de Canaã (Js. 24.15), bem como num sentido específico para indicar um grupo de habitantes da região ocidente do Jordão (Js. 5.1). Josué se refere às duas vitórias que o senhor deu ao seu povo sob a liderança de Moisés: a vitória sobre Seom, rei de Hesbom e sobre Ogue, rei de Basã, que reinavam na terra dos amorreus (Nm. 21.21-35). Isso aconteceu antes da travessia do Jordão. Deus entregou o inimigo nas mãos do seu povo que o destruiu e também possuiu a sua terra. Deus não permite que o seu povo pereça nas mãos do inimigo. Ele guarda o seu povo na salvação durante a sua peregrinação.
O senhor livrou o seu povo das mãos de Balaque, rei de Moabe e Balaão (v. 9,10). Esse fato também ocorreu sob a liderança de Moisés e está registrado em Números 22-24. Os moabitas eram um povo inimigo de Israel. Balaque, o rei de Moabe, temeu Israel que estava acampado em suas terras e chamou Balaão para amaldiçoar o povo de Deus. Mas ele não pôde fazer isso. Pelo contrário, ele abençoou o povo de Deus. Além disso, ele profetizou a vitória de Israel sobre os moabitas. Mais uma vez o senhor deu vitória ao seu povo contra o inimigo. Ninguém pode fazer perecer o povo que pertence ao senhor. Ele guarda os seus filhos na salvação contra as investidas do inimigo.
O senhor livrou o seu povo de todos os habitantes da terra de Canaã (v. 11,12). Agora Josué relembra um ato de salvação do senhor que se deu sob a sua liderança depois da travessia do Jordão. Começando pelos habitantes de Jericó, o senhor entregou nas mãos de Israel todos os povos que residiam na terra de Canaã. O senhor causou espanto àquelas nações e elas foram expulsas da terra que Deus prometera ao seu povo. Assim Israel pôde habitar e possuir plenamente a terra prometida.
O senhor pelejou por seu povo e venceu para dar-lhe a terra de Canaã. Não foi pela força de Israel, mas pelo braço forte do senhor que Israel venceu os inimigos e caminhou em triunfo durante sua peregrinação rumo à terra prometida. Josué enfatiza os atos de livramento do senhor: “EU os entreguei nas vossas mãos; eu os destruí diante de vós; eu vos livrei da sua mão”. O senhor manifesta a sua salvação na peregrinação. Ele protege e guarda na salvação o povo da sua aliança. Ele é fiel e poderoso não só para salvar do Egito, mas também para guardar o seu povo na salvação durante a sua peregrinação.
A peregrinação de Israel e sua vitória sobre os inimigos apontam para a peregrinação vitoriosa da igreja neste mundo rumo ao descanso eterno. Aquele que conquistou a nossa salvação através da sua morte na cruz também nos guarda nesta salvação até o fim. Jesus nos protege e nos dá vitória contra os nossos inimigos. Nossa peregrinação é marcada por uma luta. Nossa luta não é contra nações inimigas. Nossa luta é contra a nossa natureza pecaminosa, o mundo corrompido e especialmente Satanás que tenta impedir nossa caminhada à canaã celestial. Ele é como um leão que ruge procurando alguém para devorar. Ele não se cansa de colocar obstáculos em nosso caminho. Mas de uma coisa temos plena certeza, e isso é o nosso consolo: Nada pode nos separar do amor de Deus e ninguém arrebatará das mãos de Cristo nenhuma sequer de suas ovelhas. Ele mesmo nos garante isso. Debaixo da proteção e do cuidado especial do Nosso Grande Rei e Salvador Jesus Cristo, venceremos todos os inimigos e herdaremos a Canaã Celestial.

3. Salvação pela graça.

Por que o senhor salvou Israel do Egito e o guardou dos inimigos em sua peregrinação até a terra prometida? Não foi por mérito de Israel, mas pela graça de Deus. Todos os atos de salvação realizados por Deus manifestam a sua graça em favor do seu povo. Josué nos revela o evangelho da graça de Deus no nosso texto, não só na salvação de Israel do Egito e na peregrinação, como também nos seguintes pontos:
A graça de Deus em favor da salvação do seu povo se manifesta na escolha que Deus fez de Abraão e sua descendência para ser o seu povo (v. 2-4). Os pais de Abraão serviam a falsos deuses e Deus, por sua graça, tomou a Abraão e sua descendência para ser o seu povo santo e abençoado com a sua salvação. Abraão não era melhor do que os outros homens da sua época. Deus não viu nada de bom em Abraão, mas o escolheu por sua graça. Não foi Abraão quem escolheu a Deus, mas foi Deus quem o escolheu e isso com base na sua graça. A eleição de Abraão, Isaque, Jacó e seus filhos é uma eleição de graça. Ao seu povo escolhido, o senhor manifesta a sua graça a fim de salvá-lo do poder do pecado e do diabo e de guardá-lo na salvação até a glória.
A graça de Deus em favor da salvação do seu povo se manifesta na dádiva da terra prometida (v. 13). A Abraão e sua descendência o senhor fez uma promessa maravilhosa: dar-lhe como herança a terra de Canaã (Gn. 15.18-21). Chegou o tempo do cumprimento dessa promessa. Através de Josué, o senhor fez o seu povo conquistar e possuir a terra de Canaã. Israel não conquistou a terra de Canaã por seu próprio esforço, mas pela graça de Deus (v. 13). A terra que manava leite e mel agora era deles por pura graça. Eles não construíram nenhuma cidade e nem plantaram nada, mas desfrutavam das riquezas de Canaã. Isso mostra a graça de Deus. É Deus quem dá a terra de graça e não é o povo que a merece por seu esforço (Js.1.2; 21.43). O senhor mostrou a sua fidelidade e graça em dar a Israel a terra prometida.
A posse da terra prometida por Israel com base na graça de Deus aponta para a herança da Canaã celestial que o senhor está preparando para nós. Na glória por vir, o senhor nos dará, por pura graça, a benção eterna de viver e reinar com ele no novo céu e na nova terra. Essa herança está reservada nos céus para nós que somos guardados pelo poder de Deus até o último dia. Na glória louvaremos eternamente a Deus pela grandeza da sua graça em favor da nossa salvação. Ele é o Deus fiel e gracioso que salva o seu povo. Ele nos enviou Cristo para nos livrar do pecado, do diabo e da morte. Ele cuida de nós em nossa peregrinação aqui na terra. Ele nos garante a salvação eterna por sua graça. Sejamos crentes gratos e alegres pela salvação do senhor. Não esqueçamos seus atos de salvação em nosso favor. Reconheçamos a grandeza da sua graça em favor da salvação de pecadores indignos como nós e demos a ele toda a glória com nossa vida e nossos louvores, pois ao senhor, Nosso Deus, e ao cordeiro pertence a salvação.

Elissandro Rabelo

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