Introdução
– Estamos a dois domingos meditando sobre o Sermão da Montanha, onde Jesus transmite aos seus seguidores (os discípulos), através do Evangelho de Mateus, nos seus 107 versículos que tratam do Sermão da Montanha o arcabouço da fé cristã. Vemos no Sermão da Montanha a orientação do mestre para nossas vidas, pois somos discípulos de Cristo em pleno século 21.
– Creio que através dos estudos temos demonstrado a igreja que os ensinamentos de Jesus, em especial os versículos que estamos estudando, se referem ao caráter do cristão, pode parecer duro esta colocação, mas são práticas na vida do cristão, não de vários. A humildade, os que choram, o que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os limpos de coração, os pacificadores, os perseguidos por causa da justiça e por causa de Cristo, não é uma escolha é um todo.
– John Stott comenta Mateus 5:3-12: “As bem-aventuranças enfatizam oito sinais principais da conduta e do caráter cristão, especialmente em relação a Deus e aos homens, e as bênçãos divinas que repousam sobre aqueles que externam estes sinais”. O Pr. Messias em seu livro de estudo sobre o Sermão da Montanha também escreveu o seguinte: “As bem-aventuranças apresentam as bênçãos que Deus concede, não como uma recompensa aos méritos, mas como um dom da graça… estas bênçãos não têm um sentido escatológico ou futurístico; elas são nossas a partir do momento em que temos Cristo como nosso salvador e senhor. Cremos, sim, que a sua consumação se dará no futuro. Todavia, já podemos desfrutá-las aqui e agora”.
– O cristão que vive e pratica os ensinos de Jesus em sua vida, ele de fato é abençoado. Se atentarmos para a colocação de Jesus no v.17 de Mateus 5: “Não pensem que vim abolir a Lei ou os profetas; não vim abolir, mas cumprir”. Nesse sentido, se lermos Deuteronômio 11:26-28 com este pressuposto, vamos entender que Deus quer nos abençoar, pois somos o seu povo, mas é necessário obedecermos, vivermos e praticarmos. Queremos estudar as bênçãos para entendermos o mandamento de obediência.
I – A Bênção de ser filho de Deus (v.9)
– Inicio este ponto afirmando que ser filho de Deus tem uma dimensão muito maior do que nós imaginamos, pois vivemos em uma geração corrompida pelo pecado, em um sistema onde sai político, entra político, onde muda plano econômico e surgem novos planos e nada muda, pois o mundo jaz no maligno (1 João 5:19).
– Para Jesus quem são os filhos de Deus no versículo que acabamos de ler? São os pacificadores, aqueles que vivem para promover a paz. Não simplesmente a paz humana, não simplesmente a ausência de guerra, ausência de violência, ausência de brigas, mas a promoção da paz de Deus (eirene no grego e shalom no hebraico).
– Sabemos que ao longo da história humana tivemos homens e mulheres que promoveram a paz (humana), que é válido, mas não é o que resolve. Pois o sentido de paz é o de reconciliação com Deus e com o próximo, a que o Apóstolo Paulo escreveu em 2 Corintios 5:18, onde aprendemos que Deus nos reconciliou em Cristo e nos deu o ministério da reconciliação (pacificadores). Romanos 8:19, diz que a criação aguarda com grande expectativa a manifestação dos filhos de Deus, que de acordo com João 1:12 são os que receberam e creram em Jesus Cristo.
– John Driver em seu estudo sobre o Sermão do Monte “Ouça Jesus”, escreveu o seguinte sobre o v.9: “Entre os hebreus a expressão “filho de” também era usada para descrever o caráter de uma pessoa. Os filhos de Deus são os que se assemelham a Deus no cumprimento de sua missão de shalom e reconciliação”.
– É uma bênção ser filho de Deus, com toda certeza é a maior de todas, pois significa ser salvo, ter a eternidade garantida em Cristo, mas fomos reconciliados para vivermos como pacificadores, pois nós temos em nossos corações a paz de Deus (Romanos 5:1; João 14:27).
– Certa vez, assistindo a um dos recentes filmes, do conhecidíssimo personagem de gibi, homem aranha, ouvi uma frase que ficou gravada em minhas lembranças: “Todo poder requer a consciência de uma grande responsabilidade”. Ser filho de Deus é uma responsabilidade muito grande, se Deus nos salvou, nos reconciliou e nos transformou de inimigos para filhos, temos que buscar viver o que está escrito no Salmo 34:14b: “busque a paz com perseverança”.
II – A Bênção da herança (v.10)
– Vemos nas palavras de Jesus o fortalecimento dos cristãos que enfrentam perseguição por serem verdadeiramente cristãos. Na realidade sofrer perseguição não é nada fácil, ser excluído, ser humilhado, maltratado, por ter um estilo de vida diferenciado (contra cultura como diz Sttot). Porém, não queremos ressaltar pura e simplesmente que o cristão sofre perseguição, mas o porque dele sofrer perseguição e que mesmo sofrendo perseguição, ele possui uma herança garantida.
– Na realidade precisamos compreender o significado de ser perseguido por causa da justiça. Aqueles que possuem a Bíblia na Linguagem de Hoje sabem que o versículo 10 foi traduzido da seguinte maneira: “Felizes os que sofrem perseguição por fazerem a vontade de Deus, pois o Reino dos céus é deles”.
– Nesse sentido, quero ressaltar um comentário de um teólogo chamado Marcel Dumais que disse o seguinte a respeito dessa perseguição por se fazer à vontade de Deus: “Se perseguem os discípulos, sua bem-aventurança nada tem a ver com a perseguição em si, mas com sua fidelidade a Jesus, por quem sofre”. No Evangelho de Marcos 3:31-34, Jesus afirma que a sua família não se limita aos seus parentes consangüíneos, mas a todo aquele que faz a vontade de Deus.
– A bênção da herança reside na fidelidade do cristão a Deus em procurar viver no centro da vontade do Senhor, de acordo com a sua justiça. Em Romanos 8:17 diz que se somos filhos, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo. Se participarmos dos seus sofrimentos, também seremos participantes da sua glória. Sabemos que em muitos países, onde o culto a Deus é proibido há uma dura perseguição aos cristãos (exemplo da igreja na China/ Missão Portas Abertas), mas temos muitos cristãos e pastores sendo perseguidos pelo mau testemunho, pelo fanatismo e posturas que não estão na vontade de Deus.
– Jesus nos explica em Mateus 25:31-36 em especial o v.34 a dimensão da nossa herança: “Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: Venham, benditos de meu Pai! Recebam como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo”.
– Nossa herança não é um carro, ou uma quantia em dinheiro, nossa herança não é passageira, mas a nossa herança é o reino de Deus, é a certeza que acima de sermos brasileiros (e graças a Deus por sermos), somos cidadãos do reino dos céus.
III – A Bênção que nos aguarda nos céus (vv.11-12)
– Enquanto preparava este sermão tive o privilégio de ler alguns artigos e livros sobre o Sermão da Montanha, quando estava lendo a opinião dos teólogos sobre esses versículos, percebi um consenso de que os vv.11-12 seriam uma continuação ao v.10, porém, há informações suficientes nesses dois versículos para um outro sermão. Mas seguindo a proposta de que há bênçãos reservadas para os cristãos que obedecem a Deus, afirmamos que há bênçãos que se cumprem aqui e na glória quando estaremos diante de Deus.
– Jaime Kemp nos relata uma série de restrições que os cristãos da igreja primitiva sofreram por causa da mensagem do Evangelho, por se converterem a Cristo. Kemp diz que no primeiro século, os cristãos sofreram perseguição em três áreas (vida familiar, social e profissional), basta nos lembrarmos de Atos dos Apóstolos.
– Qual nossa disposição em abrirmos mão da família, abrirmos mão de nossa vida social, de abrirmos mão até da nossa vida profissional por causa de Cristo? Ao longo da história da humanidade, após o início da igreja em Cristo, muitas pessoas morreram por causa dele, os mártires, pessoas como eu e você, que tinham a sua vida cotidiana, mas que não quiseram abrir mão da bênção que o cristão receberá no céu. Parece até paradoxal: “Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa, os insultarem, os perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês” (v.11), mas Jesus nos orienta no v.12 a ficarmos alegres e contentes, porque receberemos uma grande recompensa.
– O Apóstolo Pedro escreve em sua primeira epístola no capítulo 4:12-19 que devemos nos alegrar nos sofrimentos por sermos de Cristo, pois quando sua glória for revelada, vamos exultar muito mais (v.13). Mas que benção é essa que nos aguarda nos céus, porque será que vale tanto apena abrirmos mão aos apegos deste mundo e enfrentarmos tudo por Jesus? Em Apocalipse 7:9 vemos a descrição de uma grande multidão (cristãos do mundo inteiro); já no v.14 temos uma descrição de como foi a vida deles (os que enfrentaram a grande tribulação). Mas leia o v.15, a primeira expressão: Por isso… Saiba que essa é a bênção que nos aguarda nos céus vv.15-17.
– A benção da eternidade, a benção de estar diante de Deus adorando, contemplando a Trindade Santa, a benção de não existir mais morte, enfermidade, tristeza, pecado, maldade, violência, pessoas passando necessidades, famílias desestruturadas, vícios, corrupção, mas novos céus e nova terra (Apocalipse 21:1-7).
Conclusão
– Termino este sermão dizendo que ao meditarmos sobre esses quatro versículos do Sermão da Montanha, não podemos nos esquecer que estamos diante da bênção e da maldição, isso não significa que Deus deseje amaldiçoar seu povo, mas tudo aquilo que plantamos, certamente colheremos, espero que com este estudo, como igreja queiramos optar pelo obedecer, sendo pacificadores, enfrentando a perseguição por fazermos a vontade de Deus e sermos discípulos de Cristo, na certeza que receberemos toda sorte de bênçãos, aquelas que Deus tem reservado para nós.
– Que Deus nos abençoe e nos ajude a verdadeiramente obedecermos e vivermos como bem-aventurados. Em nome de Jesus, Amém!
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