O velho que nunca amou





Contam que Bajezid Bistami encontrava-se falando a uma grande e atenta platéia. Todos os presentes, velhos ou jovens, estavam fascinados com suas palavras. No auge deste encantamento, quando seu discurso enlevava a todos, entrou um fumador de ópio, e com a fala algo arrastada disse:

– Mestre, meu burro se perdeu. Ajuda-me a encontrá-lo.

– Paciência, meu filho, eu vou achá-lo – disse-lhe Bajezid Bistami, continuando seu sermão.

Após algum tempo, enquanto ainda discursava, perguntou aos presentes:

– Existe alguém entre nós que nunca amou?

– Eu – disse um velho levantando-se – eu nunca amei ninguém, desde minha mais remota juventude. Nunca o fogo da paixão consumiu minha alma. Para que não turvasse minha mente, nunca deixei o amor ocupar meu coração.

Bajezid Bistami voltou-se então para o fumador de ópio que pouco antes o havia interrompido e lhe disse:

– Vê, meu filho, acabo de achar teu burro! Pega-o e leva-o daqui.


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O velho que nunca amou

Contam que o elevado e santo Bajezid Bistami encontrava-se falando a uma grande e atenta platéia. Todos os presentes, velhos ou jovens, estavam fascinados com suas palavras. No auge deste encantamento, quando seu discurso enlevava a todos, entrou um fumador de ópio, e com a fala algo arrastada disse:
– Mestre, meu burro se perdeu. Ajuda-me a encontrá-lo.
– Paciência, meu filho, eu vou achá-lo – disse-lhe Bajezid Bistami, continuando seu sermão.
Após algum tempo, enquanto ainda discursava, perguntou aos presentes:
– Existe alguém entre nós que nunca amou?
– Eu – disse um velho levantando-se – eu nunca amei ninguém, desde minha mais remota juventude. Nunca o fogo da paixão consumiu minha alma. Para que não turvasse minha mente, nunca deixei o amor ocupar meu coração.
O venerando Bajezid Bistami voltou-se então para o fumador de ópio que pouco antes o havia interrompido e lhe disse:
– Vê, meu filho, acabo de achar teu burro! Pega-o e leva-o daqui.

Extraído de: Türkische Märchen, Eugen Diederichs Verlag, Jena, 1925
Traduzido do Alemão por Sergio C. Bello

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