A Luta
O grande objetivo dos nossos opositores nessa luta é abalar a confiança que temos em Deus. Eles tentam, de todas as formas, denegrir o caráter de Deus para que nós não vejamos Sua bondade, integridade e perfeição.
A palavra que o apóstolo Paulo usa para descrever esse combate “Luta” também era usada para falar das lutas livres. Parece que Paulo estava tentado explicar para os seus leitores que ele não estava falando de um luta intelectual, travada em torno de conceitos.
Definitivamente não estava falando de uma luta teológica ou mesmo de uma disputa filosófica. Ao usar a mesma palavra que se usava para as lutas livres romanas, Paulo fala de um combate corpo a corpo. O inimigo está sempre perto, sempre rondando, pronto para atacar.
Os irmãos de Éfeso imediatamente compreenderam que nessa luta eles não poderiam dar as costas ao inimigo, nem subestimar suas artimanhas. Entenderam que os ataques que temos que enfrentar são rápidos e bem planejados para nos atingir em nossos pontos mais fracos.
Por causa do tipo da luta e da força do inimigo, o Senhor nos deu uma armadura, um conjunto de armas indispensáveis para resistirmos nessa luta ao ataques do inimigo. O Senhor não nos tira das batalhas. Ele nos fortalece com a sua presença, e nos dá os meios para resistirmos ao lado dele. Abra sua bíblia na carta de Paulo aos (Efésios 6:13-17 – RA).
A ARMADURA
O cinturão da verdade é a sustentação da armadura. Jesus é verdade. O compromisso com Ele e com a sua Palavra é o que sustenta a armadura. Esse compromisso com a Verdade não é apenas uma espécie de assentimento, de concordância intelectual. Cingir-se da verdade é viver a vida tendo a verdade como norteadora de suas atitudes. A Verdade precisa invadir seus negócios, seus estudos, sua família, suas amizades, seu casamento e onde mais você estiver.
A couraça da justiça é a proteção daquilo que é mais importante: sua vida com Deus. A couraça romana cobria o peito e as costas para proteger o coração e o pulmão. A couraça da justiça protege o seu relacionamento com Deus. Para vestir a couraça da justiça, eu preciso antes retirar a minha couraça de pano podre.
Quando eu tento lidar com Deus na base da troca de favores, achando que através do meu esforço próprio posso convencê-lo de que sou uma boa pessoa, estou fazendo uma couraça com pedaços de pano podre. Mas a couraça que protege é feita da justiça de Deus, não da minha justiça própria.
Ele me declara justo quando pela fé eu compreendo o quão distante estou de Deus, reconheço minha incapacidade de controlar a vida e decido confiar em Jesus para me conduzir de volta para perto do Pai.
As sandálias do evangelho da paz. Nenhum soldado poderia ir para a batalha com os pés descalços. Por isso a terceira peça da armadura são as sandálias. Elas eram leves e resistentes. Protegiam os pés e permitiam ao soldado a mobilidade necessária para o combate. As sandálias do soldado romano eram de couro. Na armadura de Deus as sandálias são de paz.
O evangelho da paz são as boas notícias de que Deus, através de Jesus, reconciliou o mundo consigo mesmo. Seria impossível para qualquer soldado lutar com bravura contra o inimigo se a briga dentro dele fosse contra o seu próprio comandante. Por isso Deus promoveu a paz através de Cristo. Da mesma maneira, através de Cristo, temos paz com nossos irmãos e companheiros de batalha.
Não podemos sair para a batalha descalços, olhando para o chão. Precisamos calçar as sandálias do evangelho da paz. Paz com Deus, paz com os irmãos, paz com a criação de Deus, tudo através de Cristo. Aí, de cabeça erguida, podemos partir para o combate.
O Escudo da fé
Os escudos sempre foram peças indispensáveis em uma guerra. São armas de defesa e servem para proteger contra os ataques do inimigo. Os soldados romanos usavam dois tipos de escudo. Havia um escudo pequeno, circular que era usado pelos arqueiros e um outro maior que protegia todo o corpo do soldado. Provavelmente Paulo estava falando desse escudo longo atrás do qual o soldado podia se esconder das flechas e lanças atiradas pelo inimigo.
Nem sempre o significado que a Bíblia confere à palavra fé é o mesmo que usamos no dia a dia. A palavra fé anda tão desgastada que a primeira coisa que precisamos descobrir é sobre qual tipo de fé estamos falando.
O QUE A FÉ NÃO É
John Stott, um dos teólogos mais influente do século XX, escreveu um texto sobre a fé bíblica que pode nos ajudar a compreender as diferenças entre a fé que é capaz de proteger no meio da batalha e aquela que pouco vai lhe servir quando você for atacada pelas flechas inflamadas do Maligno.
Fé não é credulidade
Ser crédulo é ser ingênuo, ser completamente desprovido de qualquer crítica e sem discernimento, às vezes até irracional, naquilo que se crê. O crédulo embarca uma viagem sem reflexão e deixa sua mente em casa. Não é assim a fé bíblica.
Não há porque contrapor fé e razão. Não disputa entre elas. A fé bíblica não é ilógica, pelo contrário ela se apóia em afirmações claras e consistentes. Na verdade, o escritor de Hebreus diz que fé se opõe à visão pragmática das coisas:
Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem. (Hebreus 11:1 RA)
A fé bíblica não abre mão da razão, ao contrário, ela está apoiada no caráter e nas promessas de um Deus coerente e íntegro, de quem herdamos nossa racionalidade. A viagem do crente é reflexiva, de olhos abertos para enxergar a vida, mas sem abrir mão da confiança na soberania e na bondade de Deus.
Fé não é otimismo
Ser otimista não é ruim. Pensar positivamente sobre as coisas e as situações é bom e deixa todos, tanto o otimista quanto aqueles que estão ao ser redor, muito animados. A questão é que o desejo dele de que tudo funcione bem é tão grande que o otimista põe sua confiança em qualquer coisa, em qualquer pessoa, não importa. O importante é que tudo dê certo.
O otimista incentiva a todos terem pensamentos positivos e rejeita as energias negativas. Para o otimista a única questão é você confiar que vai dar certo. Mas confiar em que? Confiar em quem? O otimista não faz essas perguntas. O que importa é pensamento positivo é pé na estrada.
O otimista esotérico acredita que devemos atrair forças positivas em nosso favor; o otimista humanista acredita que devemos confiar em nossas próprias forças. Afinal somos capazes de qualquer coisa. Definitivamente a fé bíblica não é otimismo.
(1) Nossa confiança não é de que tudo vai dar certo se pensarmos positivamente; confiamos em Deus e no seu amor por nós, a despeito das circunstâncias parecerem favoráveis ou não. (2) Para o cristão, não é o esforço em ter pensamentos positivos que faz as coisas dar certo; temos pensamentos positivos por causa da nossa confiança de que Deus está no controle de todas as coisas. (3) A fé bíblica não é a confiança em qualquer coisa que dê certo, não é o pragmatismo religioso que muita gente está vendendo por aí; exercer a fé da bíblia é depositar o seu tesouro, tudo o que há de mais importante para você aos pés do Senhor e confiar que Ele fará o melhor.
O escudo que Deus nos deu para enfrentarmos a luta espiritual não é feito de otimismo. É feito de fé. O otimismo não suporta o calor da batalha. Um escudo feito de otimismo é facilmente despedaçado pelos dardos do maligno.
(1) O otimismo não resiste ao sentimento de fracasso por causa do filho drogado, da empresa falida, do casamento desfeito ou da doença sem cura; (2) O otimismo não é capaz de suportar quando as metas não foram cumpridas e os objetivos de sucesso fazem parte do passado, os sonhos não foram realizados e as oportunidades forma desperdiçadas.
Quando essas situações se transformam em flechas nas mãos do Maligno, apenas o escuda da fé é capaz de lhe proteger. Quando as situações são adversas e parece que tudo deu errado, apenas o escuda da fé pode apagar os dardos inflamados do inimigo.
Na sua segunda carta a Timóteo (1:8-12), o apóstolo Paulo encoraja o jovem pastor e dá seu próprio testemunho a esse respeito. Paulo estava preso por pregar o evangelho de Jesus, mas ele diz: Eu sei em quem tenho crido.
(8) Não te envergonhes, portanto, do testemunho de nosso Senhor, nem do seu encarcerado, que sou eu; pelo contrário, participa comigo dos sofrimentos, a favor do evangelho, segundo o poder de Deus, (9) que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, (10) e manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus, o qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho, (11) para o qual eu fui designado pregador, apóstolo e mestre (12) e, por isso, estou sofrendo estas coisas; todavia, não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia. (II Timóteo 1:8 – 12 RA)
Não podemos abrir mão do escudo da fé. A certeza de que os nossos tesouros mais preciosos estão guardados por aquele em quem temos crido.
Fé não é autoconfiança
Esse é um bom momento para fazermos diferença entre dois conceitos que às vezes se misturam: autoconfiança e auto-suficiência.
Todos nós precisamos de uma boa dose de autoconfiança para enfrentarmos a vida. Não há problema nisso. Quando você elogia seu filho por causa de um trabalho bem feito, quando você fala para sua esposa o quanto você a ama, quando aplaude o trabalho de uma equipe, você está construindo autoconfiança no outro e isso é bom e necessário.
Mas fé não é autoconfiança. Fé é confiança em Deus, no seu caráter e nas suas promessas; autoconfiança e confiar nas habilidades próprias, na capacidade de realizar algo. Enquanto a fé em Deus não encontra limites, a autoconfiança vai até o limite das nossas capacidades.
Por isso o escudo que Deus nos deu é feito de fé e não de autoconfiança. Um escudo feito de autoconfiança também não resistiria ao calor da batalha. Autoconfiança não é suficiente.
Quando não se sabe mais o que fazer diante de uma mãe com Alzaimer… Quando as crises de pânico não deixam mais você sair de casa em paz… Quando você já fez tudo o que era possível para manter um casamento que está aos pedaços… Apenas o escudo da fé poderá lhe proteger dos dardos inflamados do inimigo.
Ouça o Senhor:
Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. (João 14:1 RA)
Mas Jesus imediatamente lhes disse: Tende bom ânimo! Sou eu. Não temais! (Mateus 14:27 RA)
Olhem para os passarinhos – eles não plantam, não colhem, nem têm depósitos para guardar seu alimento, e ainda assim passam bem – pois Deus cuida deles. E vocês valem muito mais para Deus do que qualquer ave! (Mateus 6:26 BV)
Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo. (João 16:33 RA)
Fé não é auto-suficiência
Embora a autoconfiança não seja suficiente para enfrentarmos a batalha, ela é saudável. A autoconfiança dever ser vivida no ambiente na interdependência. É assim com os dons espirituais. Deus concede dons diferentes para que ao mesmo tempo cada um faça sua parte e ainda dependamos uns dos outros.
Mas quando a autoconfiança se torna uma obsessão, ela muda de nome e se torna auto-suficiência. A auto-suficiência é um veneno. Ela nos afasta de Deus e das pessoas. A auto-suficiência destrói os relacionamentos, isola a pessoa e lhe dá a falsa sensação de independência. Auto-suficiência é a fé em si mesmo. Essa não é a fé bíblica.
Falando do sucesso do seu ministério, o apóstolo Paulo nos ajuda a ver o quanto devemos permanecer distantes da auto-suficiência.
(4) E é por intermédio de Cristo que temos tal confiança em Deus; (5) não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus, (II Coríntios 3:4 -5).
Em seu ministério, limitado em sua natureza humana, Jesus reconheceu por diversas vezes sua dependência do Pai.
Eu nada posso fazer de mim mesmo; na forma por que ouço, julgo. O meu juízo é justo, porque não procuro a minha própria vontade, e sim a daquele que me enviou. (João 5:30 RA)
Não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo
não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, faz as suas obras. (João 14:10 RA)
CONCLUSÃO
A fé bíblica não é irracional, ela está apoiada no caráter e nas promessas de Deus; Não se parece com auto-suficiência. Na verdade ela é a suficiência do Alto. A fé bíblica não é auto-ajuda, mas é ajuda que vem do alto, do Deus eterno.
Sua armadura não estará completa sem o escudo da fé. Sem ele, as flechas incendiárias vão atear fogo a sua vida.
Usar o escudo da fé não é a garantia de que as flechas vão parar. Não é essa a questão. A promessa de Deus é de que com o escudo da fé, mesmo que flechas inflamadas venham, você vai estar protegido por causa da sua confiança no Deus Criador, através de Jesus Cristo.
(8) Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar; (9) resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo. (I Pedro 5:8 – 9 RA)
Sem colocar no Senhor a sua confiança, você vai se tornar presa fácil do nosso adversário. Com o escudo da fé você vai resistir firme aos seus ataques.
(3) Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; ora, os seus mandamentos não são penosos, (4) porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. (5) Quem é o que vence o mundo, senão aquele que crê ser Jesus o Filho de Deus? (I João 5:3 -5 RA)
Se a sua confiança estiver em qualquer outra coisa que não seja o Deus Eterno, o mundo será um inimigo cruel. Mas com o escudo da Fé, você vai vencer o mundo.
De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam. (Hebreus 11:6 RA)
Falta fé? Não se assuste! Faça como os discípulos: Quando perceberam desafio da vida cristã, eles disseram: Senhor, aumenta a nossa fé (Lucas 17:5). O Senhor atendeu a oração deles e atenderá a sua.
Aristarco Coelho