Neste sermão vamos aprender sobre quando é preciso abrir mão dos meus direitos.
Texto: 1 Coríntios 8:1-13
Introdução
– Vivemos na “era dos direitos”: nunca se falou tanto, nem se reivindicou com tanta força.
– Continuamos falhando em olhar os direitos pela ótica comunitária e da diversidade: os “meus direitos” teimam em se converter em “nossos direitos” (responsabilidade)
– Uma sociedade assim e uma sociedade “fraturada” (ex. Brasil); enxergamos bem-estar ou mal-estar, vitória ou derrota, através de um microscópio.
– Como resultado, vemos apenas um microcosmo (ou o “nosso mundinho” de perfeições ou imperfeições). E não deixamos de ser o centro de nós mesmos.
– Em defesa da “minha liberdade”, eu me desculpo dizendo que “o mundo ficou chato”, “politicamente correto”.
– Por ex.: Criticamos a senhorinha da “manga com leite”, o senhorzinho que diz “no meu tempo as coisas eram diferente”; mas somos igualmente nostálgicos do preconceito, do tempo em que podíamos fazer piada jocosa com “preto, mulher e homossexual”, sem problemas.
– Um mundo fraturado, individualista… já foi encenado em outros tempos, como o da antiguidade de Paulo e da igreja em Corinto [Vamos ler o texto…].
Lendo o texto e o contexto
– Corinto: uma cidade estratégica. Passagem de comerciantes (do oriente a Roma); busca de diversão, ali encontravam diversão e perversão; um mix de festa, prazer (sexual) e religião [o templo de Afrodite era assistido por cerca de mil sacerdotisas prostitutas].
– Corinto: uma cidade multicultural. Conviviam judeus, cidadãos romanos, gregos, imigrantes (sírios e egípcios); era uma verdadeira Babel sociocultural.
– Corinto: uma cidade plurirreligiosa. A adoração monoteísta caminhava lado a lado com a politeísta (deuses greco-romanos, deuses estrangeiros, sem falar no próprio Imperador).
– A igreja não estava alheia a essa diversidade. Era étnica (judeus e “pagãos”) e socialmente diversa – do tesoureiro da cidade ao escravo; de camponeses à elite…
– Corinto não era Atenas, mas a classe alta nutria pretensões filosóficas e se orgulhava de seu conhecimento e sabedoria. A questão do texto está diretamente associada a isso.
– Comida sacrificada: judeus e cristãos agradecem a Deus pela comida; os pagãos, por sua vez, honravam aos deuses nos atos de celebração envolvendo refeição.
– Duas facções: (a) Os “fortes”, eram aqueles que diziam, acertadamente, que ídolos e deuses não eram nada, pois no fundo só há um Deus. Eram “fortes” porque privilegiados por esse “conhecimento” e pela “liberdade” que gozavam na participação social.
(b) Os “fracos”, em geral, eram provavelmente pagãos recém-convertidos; em sua vida anterior, estavam acostumados com o sacrifício aos ídolos; ao ver irmãos e irmãs participando dessas refeições, sua consciência era maculada, escandalizada.
– Tudo isso chegou a Paulo, algum tempo após sua partida, em forma de “bomba atômica”.
– Sua preocupação pastoral e recomendações nos traz, ainda hoje, luz sobre o que fazer, como cristãos maduros e sóbrios (10:15), diante de disputas facciosas.
(1) Aprender a temperar nosso conhecimento com amor.
– Como fala a pessoas maduras, começa com um paradoxo: (a) todos temos algum conhecimento (v.1); (b) mas que acha que sabe, ainda não aprendeu como saber/pensar.
– É preciso desconfiar do que já sabemos, porque o conhecimento infla [ensoberbece, nos faz orgulhosos], e se torna instrumento de destruição (ser mais que os outros).
– A questão não é abandonar o conhecimento, mas temperar o saber com o amor. Reconhecer que a gente só sabe em parte (1Co 13:9) é um modo cristão autêntico de habitar harmoniosamente na casa do conhecimento e na casa do amor, até que os dois formem uma só casa.
(2) Aprender que, mais que o saber, o que importa são as pessoas.
– Paulo diz: eu sei, vocês sabem – o ídolo não é nada! Deus é tudo, há somente um Deus! Essa comida é igual a qualquer outra. Mas saber não basta, não pode preencher tudo.
– “O conhecimento verdadeiro não é insensível” (TAM). Não é insensível ao outro, à pessoa, que está além do saber, o irmão e a irmã de caminhada, a quem prezamos.
– Exemplo de Frank Ankersmit, em sua visita a Londrina. “Eu vim por sua causa”.
– Na década de 70, em O sofrimento que cura, Nouwen dizia lamentar ver sua igreja dividida em questões (gênero, homossexualidade). Então dizia que uma igreja dividida em questões, tende a se esquecer das pessoas.
– Jesus, o fundador e cabeça da Igreja, sempre acreditou que entre nós podia e devia ser diferente: que o primeiro é o que serve; que mulheres e homens têm igual importância; que os últimos serão os primeiros; que pequeninos, pecadores, publicanos e prostitutas nos precederiam no reino dos céus; que pessoas importam mais que coisas ou questões.
(3) Aprender quando abrir mão do “meu direito” e da “minha liberdade”.
– Numa sociedade capitalista, liberal, narcisista e individualista isso é uma heresia!
– Mas Paulo era universalista. Ele era bobinho o bastante para acreditar que, às vezes, o particular precisa ser sacrificado em favor do todo – muito antes disso ser tão polêmico.
– E mais: ele usou seu próprio exemplo como alguém que, “mesmo livre das exigências e expectativas de todos”, tornou-se “voluntário para com todos a fim de ganhar todo tipo de gente” (1Co 9.19, TAM). Ele não queria só falar, mas também encarnar a mensagem.
– Então, já que o ídolo não é nada; já que comer ou deixar de comer não nos faz mais próximos de Deus, nem melhores que ninguém, é o seguinte: abram mão!
– Não sacrifiquem as pessoas mais fracas por causa do seu conhecimento e da sua liberdade, não! Porque se vocês macularem isso, se vocês ferirem essas pessoas, ao próprio Cristo estarão fazendo.
– Então, como é a que a gente pode fazer isso, Paulo? É simples, ele disse, vocês têm que agir de modo semelhante a Jesus (Cf. Fp. 2.5-11).
– Então, na contramão de um mundo inflado e tão cheio de si; na contramão de religiosos que só querem se encher do sobrenatural de Deus; na contramão de suas teologias, ideologias, e causas partidárias: ESVAZIEM-SE!
– Num mundo dividido em facções, que a gente não se esqueça de Jesus; nem de que naquela cruz, todo direito e toda liberdade foram redimidos, mas também esvaziados.
Autor: Jonathan Menezes
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