O rio e o oceano

Dizem que antes de cair no Oceano o Rio treme de medo.
O Rio olha para trás, para toda a jornada: os cumes, as montanhas, o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos povoados e vê à sua frente um Oceano tão vasto que pensa que entrar nele nada mais é do que desaparecer.
Mas não há outra maneira.
O Rio não pode voltar. Ninguém pode voltar o curso de um Rio.
A existência segue sempre para frente.
Somente quando o Rio entra no Oceano é que o medo desaparece.
Isso porque apenas ali ele se dá conta de que não se trata de desaparecer no Oceano, mas sim de tornar-se Oceano.
Por um lado é desaparecimento, por outro é renascimento.
Por um lado é perder-se, por outro é ampliar-se muito além do já esperado.
É só e pura transformação.
Assim somos nós… Voltar o curso da existência é impossível. Nós só podemos ir em frente, arriscar.
Corajosamente tornamo-nos Oceano.
Sem coragem evaporamos nossa possibilidade de vida eterna, de qualidade, de radicalidade na experiência de existir.
Não apresse o Rio, já diziam que ele corre sozinho.
Mas não contenha o Rio, a água sabe para onde vai.
Confie, solte-se, transforme-se…

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